Se você acompanhou esta investigação sobre o que é meditação, e compreendeu todo o processo de pensar, vai descobrir que a mente está completamente imóvel. Nessa total imobilidade da mente, não existe vigia, nem observador, e, portanto, nem experimentador; não há uma entidade que está acumulando experiência, o que é a atividade da mente egocêntrica. Não diga “Isso é ‘samadhi’”, o que é tolice, pois você simplesmente leu sobre isto num livro e não descobriu por si mesmo. Existe uma vasta diferença entre a palavra e a coisa. A palavra não é a coisa; a palavra porta não é a porta. Assim, meditar é purificar a mente de sua atividade egocêntrica. E se você chegou tão longe na meditação, descobrirá que existe silêncio, um vazio total. A mente não está contaminada pela sociedade; não está mais sujeita a nenhuma influência, à pressão de nenhum desejo. Ela está completamente sozinha, e estando sozinha, intocada, é inocente. Então existe a possibilidade para aquilo que é infinito, eterno, surgir. A totalidade deste processo é meditação.
O Livro da Vida
Quando você percebe que não existe método, nem sistema, que nenhum mantra, nenhum mestre, nada no mundo vai ajudá-lo a estar quieto, quando você percebe a verdade que apenas a mente quieta vê, então a mente se torna extraordinariamente quieta. É como ver o perigo e evitá-lo; do mesmo modo, ver que a mente deve estar completamente quieta, ela está quieta. Agora, a qualidade do silêncio importa. Uma mente muito pequena pode ficar completamente quieta, ela tem seu pequeno espaço onde ficar quieta; esse pequeno espaço, com sua pequena quietude, é a coisa mais mortal – você sabe o que é. Mas uma mente que tem espaço ilimitado e essa quietude, essa calma, não tem um centro como o “eu”, o “observador”, é completamente diferente. Nesse silêncio não existe absolutamente “observador”; essa qualidade de silêncio tem vasto espaço, não tem limite e está intensamente ativa; a atividade desse silêncio é inteiramente diferente da atividade que é egocêntrica. Se a mente chegou tão longe (e realmente não é tão longe, está sempre aí se você sabe como olhar), então talvez aquilo que o homem tem buscado através de séculos, Deus, a verdade, o imensurável, o sem nome, o infinito, está aí – sem seu convite, está aí. Tal homem é abençoado, para ele existe verdade e êxtase.
O Voo da Águia
A mente é silenciosa apenas com a abundância de energia, quando existe aquela atenção na qual toda contradição, o impulso do desejo em diferentes direções, cessou. A luta do desejo para ser silencioso não traz silêncio. O silêncio não é comprado por nenhuma forma de compulsão; ele não é o prêmio pela supressão ou mesmo pela sublimação. Mas a mente que não é silenciosa nunca está livre; e só para a mente silenciosa os céus estão abertos. A felicidade que a mente busca não é encontrada através de sua busca, nem está na fé. Só a mente silenciosa pode receber essa felicidade que não está na igreja ou na crença. Para a mente estar silenciosa, todos os seus cantos contraditórios têm que se juntar e se fundir na chama da compreensão. A mente silenciosa não é a mente reflexiva. Para refletir, deve haver aquele que olha e aquilo que é olhado, o experimentador carregado com o passado. Na mente silenciosa não existe centro de onde se tornar, ser, ou pensar. Todo desejo é contradição, pois todo centro de desejo está em oposição a outro centro. O silêncio da mente inteira é meditação.
Comentários sobre o viver – Vol. III (Diálogos sobre a vida); Capítulo 51; Tempo, Hábito e Ideais
K: O silêncio é para ser cultivado, cuidadosamente nutrido e fortalecido? E quem cultiva? Ele é diferente da totalidade do seu ser? Existe silêncio, mente quieta, quando a pessoa deseja dominar todos os outros, ou quando cria resistência contra os outros? Existe silêncio quando a mente é disciplinada, modelada, controlada? Tudo isto não implica um censor, um chamado ego superior que controla, julga, escolhe? E existe tal entidade? Se existe, ela não é produto do pensamento? O pensamento se dividindo como o elevado e o baixo, o permanente e o impermanente, é ainda resultado do passado, da tradição, do tempo. Nesta divisão está sua própria segurança. O pensamento ou desejo agora busca segurança no silêncio, e então pede um método ou um sistema que oferece o que ele deseja. No lugar de coisas mundanas ele agora anseia o prazer do silêncio, criando então o conflito entre o que é e o que deveria ser. Não existe silêncio onde há conflito, repressão, resistência. I: A pessoa não deveria buscar o silêncio? K: Não pode haver silêncio enquanto houver o buscador. Existe o silêncio de uma mente quieta só quando não existe aquele que busca, quando não há desejo. Sem responder, faça esta pergunta para si mesmo: Pode seu ser inteiro estar em silêncio? Pode a totalidade da mente, o consciente assim como o inconsciente, estar silenciosa?
Comentários sobre o viver – Vol. II; Capítulo 50; Convicções-sonhos