Sabem, seria realmente de grande interesse se um de vocês que acredita tão fundamentalmente na reencarnação discutisse o assunto comigo. Discuti isso com muitas pessoas, mas tudo o que elas são capazes de dizer é: “Nós acreditamos na reencarnação, ela explica muitas coisas”, e isso resolve a questão. Não se pode discutir com pessoas que estão convencidas de suas crenças, que têm a certeza de seu conhecimento. Quando um homem diz que sabe, o assunto terminou; e vocês adoram o homem que diz: “Eu sei”, porque sua declaração positiva, sua certeza, lhes dá conforto, refúgio.

Se vocês acreditam ou não em reencarnação me parece um assunto muito trivial; essa crença é como um brinquedo, é agradável; não resolve nada, porque é apenas um adiamento. É apenas uma explicação, e explicações são como cinzas para o homem que está procurando. Mas infelizmente vocês estão sufocados com explicações, vocês as têm para tudo. Para cada sofrimento, vocês têm uma explicação lógica, conveniente. Se um homem é cego, vocês explicam sua má sorte nesta vida por meio da reencarnação. As desigualdades na vida, vocês explicam pela reencarnação, pela ideia de evolução. Portanto, com explicações, vocês resolveram as muitas questões relativas ao homem e deixaram de viver. A plenitude da vida exclui todas as explicações. Para o homem que está realmente sofrendo, as explicações são como pó e cinzas. Mas para o homem que busca conforto, as explicações são necessárias e excelentes. Não existe tal coisa como conforto. Existe apenas compreensão, e a compreensão não é limitada por crenças ou certezas.

Vocês dizem: “Eu sei que a reencarnação é verdade”. Bem, o que isso significa? A reencarnação, isto é, o processo de acumulação, de desenvolvimento, de ganho, é apenas a carga do esforço, a continuação do esforço; e eu afirmo que há uma maneira de viver espontaneamente, sem esta luta constante, e é através da compreensão, que não é o resultado da acumulação, do desenvolvimento. Esta compreensão, esta percepção, vem para aquele que não está preso ao medo, à autoconsciência.

Adyar, 6ª Palestra Pública – 03 de janeiro de 1934

Mas só um momento, por favor. Gostaria que vocês olhassem para esse problema não a partir do pano de fundo de suas tradições modernas ou antigas, nem através de seu compromisso com a reencarnação, mas de uma forma muito simples. Então vocês compreenderão a verdade, que os libertará completamente do medo. Para mim, a ideia de reencarnação é mero adiamento. Mesmo que vocês acreditem profundamente na reencarnação, vocês ainda têm medo e sofrimento quando alguém morre ou medo de sua própria morte. Vocês podem dizer: “Viverei no outro lado, serei muito mais feliz e farei um trabalho melhor lá do que o trabalho que posso fazer aqui”. Mas suas palavras são apenas palavras. Elas não podem acalmar o medo torturante que está sempre em seu coração. Então, vamos abordar esse problema do medo em vez da questão sobre reencarnação. Quando vocês tiverem compreendido o que é o medo, verão a insignificância da reencarnação; então nem precisaremos discuti-la. Não me perguntem o que acontece com o homem ferido, que está cego nesta vida após a morte. Se vocês compreenderem o ponto central, então considerarão tais questões de forma inteligente.

Adyar, 5ª Palestra Pública – 02 de janeiro de 1934