Como a pessoa percebe a totalidade de alguma coisa?

Como a pessoa percebe a totalidade de alguma coisa? A totalidade do medo, não um pedaço do medo sob diferentes formas ou o medo do inconsciente e o consciente – no consciente e no inconsciente – mas a totalidade do medo? Você compreende? Como a pessoa percebe a totalidade do medo? Como percebo a totalidade do eu – o ‘eu’ construído pelo pensamento, isolado pelo pensamento, fragmentado pelo pensamento que em si mesmo é fragmentado? Então ele cria o ‘eu’ e pensa que o ‘eu’ é independente do pensamento. O ‘eu’ pensa que é independente do pensamento mas ele criou o ‘eu’ – o ‘eu’ com todas as suas angústias, medos, vaidades, agonias, prazeres, dor, esperanças – tudo isso. Esse ‘eu’ foi criado pelo pensamento. E esse ‘eu’ se torna independente do pensamento, pensa que tem sua própria vida – como o microfone que é criado pelo pensamento, e contudo é independente do pensamento. A montanha não é criada pelo pensamento e contudo é independente. O ‘eu’ é criado pelo pensamento e o ‘eu’ diz: “Eu sou independente do pensamento”. Agora ver a totalidade – compreende? Está claro agora? Então o que é o medo totalmente – não as várias formas de medo, não as várias folhas desta árvore do medo mas a completa árvore do medo? Certo? Como a pessoa vê a totalidade do medo? Para ver alguma coisa totalmente ou ouvir alguma coisa completamente deve haver liberdade, não deve? Liberdade do preconceito, liberdade de sua conclusão, liberdade da sua busca de ser livre do medo, liberdade da racionalização do medo. Por favor, acompanhem tudo isto. Liberdade do desejo de controlá-lo – pode a mente se libertar de tudo isso? De outro modo ela não pode ver o todo. Eu tenho medo. Tenho medo por causa do amanhã, perder o emprego, medo de não ter sucesso, medo de perder minha posição, medo de ser desafiado e não ser capaz de responder, medo de perder a capacidade – todos os medos que a pessoa tem. Pode você olhar para ele – por favor ouçam – sem nenhum movimento de pensamento que é tempo, que causa medo? Vocês compreenderam alguma coisa?

Saanen, 4ª Palestra Pública – 20 de julho de 1975