Por que nós armazenamos elogio e insulto, mágoa e afeição?

Por que nós armazenamos elogio e insulto, mágoa e afeição? Sem este acúmulo de experiências e suas reações, nada somos; nada somos se não tivermos nome, nem apego, nem crença. É o medo de nada ser que nos compele a acumular; e é este próprio medo, seja consciente ou inconsciente que, apesar de nossas atividades acumulativas, provoca nossa desintegração e destruição. Se pudermos ficar cônscios da verdade deste medo, então é a verdade que nos vai libertar dele, e não nossa determinação proposital de ser livre. Você nada é. Pode ter seu nome e título, sua propriedade e conta no banco, pode ter poder e ser famoso; mas apesar de todas estas salvaguardas, você é como nada. Você pode estar totalmente inconsciente deste vazio, desta insignificância, ou pode simplesmente não querer estar consciente dela; mas ela está ali, faça você o que quiser para evitá-la. Você pode escapar dela de modos tortuosos, através da violência coletiva ou individual, através da adoração individual e coletiva, através de conhecimento e diversão; mas esteja você dormindo ou desperto, ela está sempre ali. Você só pode descobrir sua relação com esta inexistência e seu medo ficando cônscio sem escolha das fugas. Você não está relacionado com isto como uma entidade separada, individual; você não é o observador olhando; sem você, o pensador, o observador, isto não existe. Você e a inexistência são um; você e a inexistência são um fenômeno comum, não dois processos separados. Se você, o pensador, tem medo disto e aborda isto como alguma coisa contrária e oposta a você, então qualquer atitude que você possa tomar vai inevitavelmente levar a mais ilusão e, portanto, mais conflito e miséria. Quando há a descoberta, a experiência dessa inexistência como você, então o medo – que existe apenas quando o pensador está separado de seus pensamentos e, assim, tenta estabelecer uma relação com eles – se afasta completamente. Só então é possível para a mente ficar parada; e nesta tranquilidade, a verdade surge.

Comentários sobre o viver; Vol. 1; Autodefesa


Sendo um deserto em si mesmo

Sendo nada, sendo um deserto em si mesmo, a pessoa espera encontrar água através do outro. Sendo vazio, pobre, ordinário, deficiente, destituído de interesse ou importância, a pessoa espera enriquecer através do outro. Através do amor do outro a pessoa espera esquecer de si mesma. Através da beleza do outro, espera adquirir beleza. Através da família, da nação, do amante, de alguma crença fantástica, espera cobrir este deserto com flores. E Deus é o amante derradeiro. Assim, a pessoa põe ganchos em todas estas coisas. Nisto há dor e incerteza, e o deserto parece mais árido do que nunca. Naturalmente não é mais nem menos árido; ele é o que era, apenas a pessoa evitou olhar para ele enquanto fugia através de alguma forma de apego com sua dor, e depois fugindo dessa dor pelo desapego. Mas a pessoa permanece árida e vazia como antes. Assim, em vez de tentar fugir, seja pelo apego ou pelo desapego, não podemos ficar conscientes deste fato, desta profunda pobreza interior e inadequação, este estúpido e oco isolamento? Essa é a única coisa que importa, não apego ou desapego. Pode você olhar isto sem nenhum sentido de condenação ou avaliação? Quando o faz, você está olhando para isto como um observador, ou sem o observador?

The Urgency of Change


Você nada é

Assim a natureza, a natureza íntima do ego, quando você passou por todas as camadas do ego, a essência nada é. Você nada é. Certo? Nessa inexistência o pensamento impôs a super estrutura da consciência. Consciência sendo o conteúdo, sem o conteúdo não existe consciência – o conteúdo sendo você é um hindu, budista, sua religião, seu deus particular, seu “puja”, sua angústia, seu sofrimento, sua dor, seu ódio, seu amor, tudo isso é o conteúdo de sua consciência. Obviamente. E a ideia de que você é o super “atma”, ou super, a super consciência é parte desse conteúdo. Você compreende o que o pensamento fez. Nós somos absolutamente nada. Toda esta super estrutura foi construída pelo pensamento. E o pensamento é a resposta do registro. Naturalmente. Você compreende o registro, como uma fita. Veja o que o pensamento fez.

Madras, 5ª Palestra Pública – 07 de janeiro de 1978

Krishnamurti: Por que você quer se assegurar de que você é alguma coisa? Por que quero ter certeza de que sou alguma coisa?

Você sabe, o marajá quer mostrar que ele é alguma coisa. Ele mostra seus carros, títulos, posição, suas riquezas. O professor, o especialista asseguram-se de que é alguém através do seu conhecimento. Você também quer mostrar que você é alguém de classe com seus amigos. É a mesma coisa em pequena ou grande escala. Por que nós fazemos isso? Por favor, ouça o que estou dizendo.

Se você é interiormente rico, não há necessidade de se exibir, pois isso em si é belo. Porque interiormente tememos não ter nada, colocamos muita vaidade. O sannyasi, os primeiros-ministros e os homens ricos fazem isso. Tire-lhes o poder, o dinheiro, a posição – eles são embotados, estúpidos, vazios. Portanto, uma pessoa que quer se exibir, que quer ter a certeza de que é alguém ou que diz a si mesma que é alguém, é realmente muito vazia. Você sabe, é como um tambor, você continua batendo nele para fazer um barulho, e o barulho é a exibição, a garantia de que você é alguém. Mas o tambor em si não tem barulho, tem que bater nele para produzir o barulho, em si mesmo ele é vazio. Em si mesmo você é vazio, embotado, sem criatividade e porque você não é nada, você quer se assegurar de que você é alguém. Esse é o movimento da inveja. Mas se você diz que sim, que é vazio, pobre e a partir daí começa não a mudar, mas a compreender, a entrar, a mergulhar profundamente nisso, então você encontrará riquezas incorruptíveis. Nesse movimento, não há garantia de que você é alguém, pois você é ninguém. O homem que realmente é ninguém, que não é nada em si mesmo, é o único homem verdadeiramente feliz.

Banaras, 10ª Conversa com alunos – 15 de janeiro de 1954