Quando a morte chega, ela não lhe pede permissão; ela vem e leva você; ela o destrói no local. Do mesmo modo, será que você consegue abandonar o ódio, a inveja, o orgulho das posses, o apego a crenças, a opiniões, a ideias, a determinado modo de pensar? Será que você consegue abandonar isso tudo num instante? Não existe um “como abandonar isso”, pois isso seria apenas outra forma de continuidade. Abandonar opiniões, crenças, avidez ou inveja, é morrer – morrer todos os dias, todos os momentos. Se houver o findar de toda ambição, de momento a momento, então você conhecerá o extraordinário estado de ser nada, de chegar ao abismo de um movimento eterno, por assim dizer, e cair borda abaixo – que é a morte.
Quero saber tudo sobre a morte, porque a morte pode ser a realidade; ela pode ser o que chamamos Deus – aquele algo extraordinário que vive e se move e, não obstante, não tem começo nem fim.
The Collected Works; Vol XI; Pág. 242
Assim separamos o viver do morrer. O morrer é o fim da nossa vida. Nós o pomos tão longe quanto possível – um longo intervalo de tempo – mas ao fim da longa jornada morremos. E a que é que chamamos viver? Ganhar dinheiro, ir para o trabalho das nove às cinco, sobrecarregado seja no laboratório, seja no escritório ou em uma fábrica, e o interminável conflito, medo, ansiedade, solidão, desespero, depressão – toda essa forma de existência é o que chamamos vida, viver. E a isso nos agarramos. Mas é isso viver? Esse viver é dor, sofrimento, ansiedade, conflito, toda forma de decepção e corrupção. Onde há interesse pessoal tem que haver corrupção. Isso é o que chamamos viver. Sabemos disso, estamos muito familiarizados com tudo isso, essa é a nossa existência diária. E temos medo de morrer, que é largar todas as coisas que conhecemos, todas as coisas que experimentamos e acumulamos – a adorável mobília e a bela coleção de quadros e pinturas. E a morte vem e diz: “Você não pode mais ter nenhuma dessas coisas.” Portanto, agarramo-nos ao conhecido com medo do desconhecido.
That Benediction is Where You Are; Pág. 64, 65