Esta sociedade oferece segurança através da tradição, o que chamamos de opinião pública. Isto é, a opinião pública diz que possuir, ter riquezas, é perfeitamente ético, moral e lhes dá distinção neste mundo, lhes confere honras; vocês são grandes pessoas neste mundo. Isso é o que é aceito tradicionalmente. Essa é a opinião que vocês criaram como indivíduos, porque vocês estão buscando isso. Todos vocês querem ser alguém no estado, seja senhores ou lordes, vocês sabem, tudo isso, que se baseia em possessividade, posses; e isso se tornou moral, verdadeiro, bom, perfeitamente cristão ou perfeitamente hindu. É a mesma coisa. Agora, chamamos isso de moralidade. Chamamos de moralidade ajustar-se a um padrão. Por favor, eu não estou pregando o contrário disso. Estou lhes mostrando a falsidade disso e, se vocês quiserem descobrir, agirão, não buscarão o oposto. Ou seja, vocês consideram as posses, seja sua esposa, seus filhos, suas riquezas, vocês consideram isso perfeitamente moral. Agora, suponham que outra sociedade surja, onde as posses são um mal, onde essa ideia de possessividade é eticamente proibida – impulsionada pelas circunstâncias, pelas condições, pela educação, pela opinião, a possessividade é conduzida à sua mentalidade. Então a moralidade perde todo o significado, a moralidade é, portanto, apenas uma conveniência. Não a percepção correta das coisas, mas o ajuste esperto às circunstâncias – isso vocês chamam de moralidade. Suponham que vocês queiram, como indivíduos, não serem possessivos, vejam o que vocês têm que enfrentar! Todo o sistema da sociedade nada mais é do que possessividade. Se vocês quiserem compreender isso e não serem guiados pelas circunstâncias, que não são chamadas de morais, então vocês, como indivíduos, devem começar a romper com esse sistema voluntariamente e não serem conduzidos como ovelhas a aceitarem a moralidade da não-possessividade.

Agora vocês são conduzidos quer gostem ou não, quer pensem que isso é são ou não; vocês são movidos pelas condições, pelo ambiente que vocês criaram, porque vocês ainda são possessivos, e agora talvez outro sistema surja e os conduza ao aposto – a serem não-possessivos. Certamente, isso não é moralidade; é apenas serem conduzidos pelo ambiente para serem possessivos ou não-possessivos. Considerando que, para mim, a verdadeira moralidade consiste em compreender totalmente o absurdo da possessividade e combatê-la voluntariamente; não sendo conduzido de qualquer maneira.

Auckland, 1ª Palestra Pública – 28 de março de 1934

E, novamente, os padrões morais são apenas criações da sociedade, para que o indivíduo possa ser mantido em sua escravidão. Para mim, a moralidade não pode ser padronizada. Não pode haver moralidade e padrões ao mesmo tempo. Só pode haver inteligência, que não pode ser padronizada.

Ojai, 1ª Palestra Pública – 16 de junho de 1934

Senhores, por que vocês querem um sacerdote? Para mantê-los moralmente corretos? É isso? Ou para levá-los à verdade? Ou para atuar como intérprete entre Deus e vocês? Ou apenas para realizar um rito, uma cerimônia de casamento, de funeral ou de domingo de manhã? Por que vocês querem sacerdotes? Quando descobrirmos porquê precisamos deles, então descobriremos que eles são destruidores.

Se vocês dizem que um sacerdote é necessário para manter sua moralidade em ordem, então certamente vocês não são mais morais, mesmo que o sacerdote possa forçá-los a ser morais; porque para mim moralidade não é compulsão, é uma ação voluntária.

A moralidade não nasce do medo, não é condicionada pelas circunstâncias. A verdadeira moralidade é compreensão voluntária e, portanto, ação.

Auckland, 1ª Palestra – 30 de março de 1934


Negar toda moralidade é ser moral

Negar toda moralidade é ser moral, pois a moralidade aceita é a moralidade da respeitabilidade, e receio que todos nós ansiamos por ser respeitáveis – que é sermos reconhecidos como bons cidadãos numa sociedade podre. A respeitabilidade é muito útil e assegura a você um bom emprego e um salário regular. A moralidade aceita da ganância, inveja e ódio é o caminho do instituído. Quando você nega totalmente tudo isto, não com seus lábios, mas com seu coração, então você é realmente moral. Pois esta moralidade brota do amor e não de algum motivo de lucro, de aquisição, de lugar na hierarquia. Não pode haver este amor se você pertence a uma sociedade na qual você quer ter fama, reconhecimento, uma posição. Desde que não existe amor nisto, sua moralidade é imoralidade. Quando você nega tudo isso do fundo de seu coração, então existe uma virtude que está rodeada de amor.

J. Krishnamurti – A única revolução; Europa; Parte 12