A função do intelecto

Não sei se você já considerou a natureza do intelecto. O intelecto e suas atividades são corretos em certo nível, não são? Mas quando o intelecto interfere no sentimento puro, então a mediocridade se estabelece. Saber a função do intelecto, e estar ciente desse sentimento puro, sem deixar os dois se misturarem e destruírem um ao outro, requer uma vigilância muito clara e aguda. Então, a função do intelecto é sempre – não é? – examinar, analisar, explorar; mas porque queremos estar seguros internamente, psicologicamente, porque temos medo e ansiedade em relação à vida, chegamos a algum tipo de conclusão com a qual nos comprometemos. De um compromisso seguimos para outro, e eu digo que tal mente, tal intelecto, sendo escravo de uma conclusão, deixou de pensar, de examinar.

O Livro da Vida


O intelecto descuidado

Você só pode conhecer a si mesmo quando está inconsciente, quando não está calculando, protegendo, constantemente cuidando para guiar, para transformar, subjugar, controlar; quando você se vê inesperadamente, ou seja, quando a mente não tem preconceitos em relação a si mesma, quando a mente está aberta, despreparada para encontrar o desconhecido.
Se sua mente está preparada, certamente você não pode encontrar o desconhecido, pois você é o desconhecido. Se você diz para si mesmo, “Eu sou Deus” ou “Eu não sou nada além de uma massa de influências sociais ou um feixe de qualidades”; se você tem alguma preconcepção de si mesmo, não pode compreender o desconhecido, aquilo que é espontâneo.
Assim, a espontaneidade só pode surgir quando o intelecto está descuidado, quando não está se protegendo, quando não tem mais medo dele mesmo; e isso só pode acontecer de dentro. Ou seja, o espontâneo deve ser o novo, o desconhecido, o incalculável, o criativo, aquilo que deve ser expressado, amado, onde a vontade como o processo do intelecto, controlando, dirigindo, não toma parte. Observe seus próprios estados emocionais e você verá que os momentos de grande contentamento, grande êxtase, não são premeditados; eles acontecem misteriosamente, obscuramente, estranhamente.

O Livro da Vida

Treinar o intelecto não resulta em inteligência. Em vez disso, a inteligência surge quando se age em perfeita harmonia, tanto intelectual quanto emocionalmente. Há uma grande distinção entre intelecto e inteligência. O intelecto é apenas pensamento funcionando independentemente da emoção. Quando o intelecto, independentemente da emoção, é treinado em qualquer direção particular, pode-se ter um grande intelecto, mas não se tem inteligência, porque na inteligência existe a capacidade inerente de sentir tanto quanto de raciocinar. Na inteligência ambas as capacidades estão igualmente presentes, de forma intensa e harmoniosa.

Frognerseteren, 1ª Palestra Pública – 06 de setembro de 1933