Como é simples ser inocente!

Como é simples ser inocente! Sem inocência é impossível ser feliz. O prazer das sensações não é a felicidade da inocência. Inocência é liberdade do fardo da experiência. É a lembrança da experiência que corrompe, e não a experiência em si. Conhecimento, o fardo do passado, é corrupção. O poder de acumular, o esforço de tornar-se destrói a inocência; e sem inocência, como pode haver sabedoria? Os simplesmente curiosos não podem nunca conhecer a sabedoria; encontrarão, mas o que encontrarão não será verdade. Os desconfiados nunca conhecerão a felicidade, pois a desconfiança é a angústia de seu próprio ser, e o medo gera corrupção. O destemor não é coragem, mas liberdade do acúmulo.

Comentários sobre o viver; Vol. 2; Capítulo 9; Esforço


Uma mente rica em inocência

A verdade, o Deus real – o Deus real, não o Deus que o homem fez – não quer uma mente que foi destruída, pequena, superficial, estreita, limitada. Ela precisa de uma mente saudável para apreciar; precisa de uma mente rica – rica, não de conhecimento mas de inocência – uma mente sobre a qual não tenha havido nenhum arranhão de experiência, uma mente livre do tempo. Os deuses que você inventa para seu próprio conforto admitem a tortura, admitem uma mente que está sendo embotada. Mas a coisa real não quer isto, ela quer um ser humano completo, íntegro, cujo coração é cheio, rico, claro, capaz de intenso sentimento, capaz de ver a beleza de uma árvore, o sorriso de uma criança e a agonia de uma mulher que nunca teve uma refeição completa.
Você tem que ter este extraordinário sentimento, esta sensibilidade para todas as coisas – para o animal, para o gato que caminha ao longo do muro, para a esqualidez, a sujeira, a sordidez de seres humanos em pobreza, em desespero. Você tem que ser sensível – o que é sentir intensamente, não em alguma direção particular, o que não é uma emoção que vai e vem, mas que é estar sensível com seus nervos, com seus olhos, com seu corpo, seus ouvidos, sua voz. Você tem que estar sensível completamente o tempo todo. A menos que você seja tão completamente sensível, não existe inteligência. A inteligência vem com sensibilidade e observação.

O Livro da Vida


Só a inocência pode ser apaixonada

Só a inocência pode ser apaixonada. O inocente não tem dor, nem sofrimento, embora tenham tido milhares de experiências. Não são as experiências que corrompem a mente mas o que elas deixam para trás, o resíduo, as cicatrizes, as memórias. Estas se acumulam, uma sobre a outra, e então o sofrimento começa. Este sofrimento é tempo. Onde o tempo está, a inocência não está. A paixão não nasce do sofrimento. Sofrimento é experiência, a experiência da vida cotidiana, a vida de agonia e prazeres fugazes, medos e certezas. Você não pode fugir das experiências, mas elas não precisam criar raízes na mente. Estas raízes originam problemas, conflitos e constante esforço. Não existe saída para isto além de morrer todo dia para o ontem. Só a mente clara pode ser apaixonada. Sem paixão você não pode ver a brisa entre as folhas ou a luz do sol sobre a água. Sem paixão não existe amor.

Krishnamurti Foundation Trust; Boletim 4; 1969