Interiormente, inconscientemente, há o tremendo peso do passado levando você em certa direção.
Ora, como varrer tudo isso? Como o inconsciente vai se limpar imediatamente do passado? Os analistas acham que o inconsciente pode ser parcialmente ou mesmo completamente limpo através da análise, através da investigação, exploração, confissão, a interpretação dos sonhos, e assim por diante; de modo que pelo menos você se torna um ser humano “normal”, capaz de se adaptar ao ambiente atual. Mas na análise existe sempre o analista e o analisado, um observador que fica interpretando a coisa observada, o que é uma dualidade, uma fonte de conflito.
Assim, eu vejo que a simples análise do inconsciente não levará a lugar algum. Ela pode me ajudar a ser menos neurótico, um pouco mais gentil com minha esposa, com meu vizinho, ou alguma coisa superficial como essa; mas não é disso que estamos falando. Vejo que o processo analítico que envolve tempo, interpretação, o movimento do pensamento como o observador analisando a coisa observada não pode libertar o inconsciente; portanto, eu rejeito completamente o processo analítico. No momento em que percebo o fato de que a análise não pode sob nenhuma circunstância desfazer o fardo do inconsciente, estou fora da análise. Então o que acontece? Porque não existe mais nenhum analista separado da coisa que ele analisa, ele é essa coisa. Ele não é uma entidade separada disto. Então a pessoa descobre que o inconsciente tem pouca importância.
O Livro da Vida
Por que damos tão profundo significado e sentido ao inconsciente? – afinal, ele é tão trivial quanto o consciente. Se a mente consciente está extraordinariamente ativa, olhando, ouvindo, vendo, então a mente consciente se torna muito mais importante do que o inconsciente; nesse estado todos os conteúdos do inconsciente estão expostos, a divisão entre as várias camadas acaba. Olhar suas reações quando você senta num ônibus, quando está falando com sua esposa, seu marido, quando você está no escritório, escrevendo, estando sozinho – se você alguma vez fica sozinho – então todo este processo de observação, este ato de ver (no qual não há divisão entre o “observador” e o “observado”) acaba com a contradição.
O Voo Da Águia; Capítulo 2