Você pode sentar na postura correta com a coluna reta, respirando corretamente, fazer “pranayama” e todo o resto nos próximos dez mil anos, e não estará perto de descobrir o que a verdade é, porque você não compreendeu a si mesmo de fato, o modo como você pensa, o modo como vive. Você não acabou com seu sofrimento, e quer encontrar a iluminação. Você pode fazer todos os tipos de torções e rotações com seu corpo e isto parece fascinar as pessoas, pois elas sentem que isto lhes vai conferir algum poder, algum prestígio. Ora, todos estes poderes são como velas ao sol; são como a luz de velas quando o sol está brilhando.
Krishnamurti na Índia 1970-71; Pág. 55
Krishnamurti: A religião não é separada da vida; ao contrário, ela é a própria vida. É esta divisão entre religião e vida que gerou toda a miséria de que você fala. Assim voltamos à questão básica de se é possível na vida cotidiana viver num estado que, por ora, vamos chamar de iluminação? Interrogante: Eu ainda não sei o que você quer dizer com iluminação… Krishnamurti: Um estado de negação. Negação é a ação mais positiva, não afirmação positiva. Esta é uma coisa muito importante de se entender. A maioria de nós aceita muito facilmente o dogma positivo, um credo positivo, porque queremos estar seguros, pertencer, estar apegados, depender. A atitude positiva divide e provoca dualidade. O conflito então começa entre esta atitude e outras. Mas a negação de todos os valores, de toda moralidade, todas as crenças, não ter fronteiras, não pode estar em oposição com coisa alguma. Uma afirmação positiva na sua própria definição separa, e separação é resistência. Estamos acostumados a isso, este é nosso condicionamento. Negar tudo isto não é imoral; ao contrário, negar toda divisão e resistência é a mais alta moralidade. Negar tudo que o homem inventou, negar todos os seus valores, ética e deuses, é estar num estado da mente em que não há dualidade, consequentemente não há resistência ou conflito entre opostos. Neste estado não há opostos, e este estado não é o oposto de alguma outra coisa. Interrogante: Então como você sabe o que é bom e o que é mau? Ou não existe bom e mau? Como me prevenir do crime ou até de assassinato? Se não tenho padrões, o que me previne, sabe Deus, de que aberrações? Krishnamurti: Negar tudo isto é negar a própria pessoa. E a pessoa é a entidade condicionada que continuamente vai ao encalço de um bem condicionado. Para a maioria de nós a negação parece um vácuo porque conhecemos a atividade apenas na prisão de nosso condicionamento, medo e miséria. A partir daí olhamos a negação e a imaginamos como algum estado terrível de esquecimento ou vazio. Para o homem que negou todas as afirmações da sociedade, religião, cultura e moralidade, o homem que está ainda na prisão do conformismo social é um homem de sofrimento.. Negação é o estado de iluminação que funciona em todas as atividades do homem que está livre do passado. É o passado, com sua tradição e autoridade, que tem que ser negado. Negação é liberdade, e é o homem livre que vive, ama, e sabe o que significa morrer.
Liberdade, Amor e Ação; Oito Conversas