Por que não se deveria usar drogas?

Interrogante: Por que não se deveria usar drogas? Você, aparentemente, é contra elas. Seus próprios amigos proeminentes as usaram, escreveram livros sobre elas, encorajaram outros a usá-las, e eles experimentaram com grande intensidade a beleza de uma simples flor. Nós também as usamos e gostaríamos de saber por que você parece se opor a essas experiências químicas. Afinal, todo nosso organismo físico é um processo bioquímico, e adicionar a ele uma química extra, pode nos dar uma experiência que pode ser uma aproximação do real. Você mesmo não usou drogas, usou? Então, como pode, sem experimentar, condená-las?

Krishnamurti: Não, nós não usamos drogas. Deve a pessoa ficar bêbada para saber o que é sobriedade? A pessoa deve ficar doente para descobrir o que é saúde? Como há várias coisas envolvidas em usar drogas, vamos examinar a questão com cuidado. Qual é a necessidade de usar drogas realmente – drogas que prometem uma expansão psicodélica da mente, grandes visões e intensidade? Aparentemente a pessoa as usa porque suas próprias percepções estão embotadas. A clareza está obscurecida e a vida da pessoa é bastante superficial, medíocre, sem sentido; a pessoa as usa para sair dessa mediocridade. Os intelectuais fizeram das drogas um novo modo de viver. A pessoa vê mundo afora a discórdia, as compulsões neuróticas, os conflitos, a dolorosa miséria da vida. A pessoa está consciente da agressividade do homem, sua brutalidade, seu completo egoísmo, que nenhuma religião, nenhuma lei, nenhuma moralidade social foi capaz de domar. Há muita anarquia no homem – e tantas capacidades científicas. Este desequilíbrio provoca devastação no mundo. O insuperável espaço entre avançada tecnologia e a crueldade do homem está gerando grande caos e miséria. Isto é óbvio. Então o intelectual, que brincou com várias teorias – vedanta, zen, ideais comunistas e assim por diante – não encontrando saída para a situação do homem, está agora se voltando para a droga dourada que vai trazer sensatez dinâmica e harmonia. A descoberta desta droga dourada – a resposta completa para tudo – é expectativa do cientista e provavelmente ele vai produzi-la. E os autores e intelectuais vão advogá-la para parar com as guerras, como ontem advogavam o comunismo ou fascismo. Mas a mente, com suas extraordinárias capacidades para descobertas científicas e sua implementação, é ainda insignificante, estreita e intolerante, e certamente continuará, não continuará, em sua insignificância? Você pode ter uma tremenda e explosiva experiência através de uma dessas drogas, mas a agressividade profunda, a bestialidade e sofrimento do homem vão desaparecer? Se essas drogas podem resolver os problemas complexos e intrincados das relações do homem, então não há mais nada a dizer, porque então relação, a demanda da verdade, o fim do sofrimento, são todos um caso muito superficial para ser resolvido com uma pitada da nova droga dourada. Certamente esta é uma abordagem falsa, não é? Diz-se que estas drogas conferem uma experiência aproximada da realidade, e assim, dão esperança e coragem. Mas a sombra não é real; o símbolo nunca é o fato. Como se observa mundo afora, o símbolo é adorado e não a verdade. Então não é uma afirmativa falsa dizer que o resultado dessas drogas está perto da verdade? Nenhuma dinâmica pílula dourada vai resolver nossos problemas humanos. Eles só podem ser resolvidos com a realização de uma revolução radical na mente e no coração do homem. Isto exige trabalho constante e árduo, ver e ouvir, e assim ficar altamente sensível. A mais elevada forma de sensibilidade é a mais elevada inteligência, e nenhuma droga inventada pelo homem dará esta inteligência. Sem essa inteligência não existe amor; e amor é relação. Sem este amor não há equilíbrio dinâmico no homem. Este amor não pode ser conferido – por sacerdotes ou por deuses, por filósofos, ou pela droga dourada.

A única revolução Europa; Obras coletadas; Volume 13

Interrogante: Entre seus ouvintes estão pessoas idosas e débeis de mente e corpo. Além disso, pode haver aqueles que são viciados em drogas, bebida ou tabagismo. O que eles podem fazer para mudar a si mesmos, quando descobrem que não podem mudar mesmo quando desejam?

Krishnamurti: Permaneçam como estão. Se vocês realmente anseiam mudar, vocês mudarão. Veja bem, é exatamente isso, intelectualmente vocês querem mudar, mas emocionalmente vocês ainda são atraídos pelo prazer de fumar ou pelo conforto de uma droga. Portanto, vocês perguntam: “O que devo fazer? Quero desistir disso, mas ao mesmo tempo não quero desistir. Por favor, diga-me como posso fazer as duas coisas.” Isso soa divertido, mas é isso o que você está realmente perguntando.

Agora, se vocês abordarem o problema inteiramente, não com a ideia de querer ou não querer, de desistir ou não desistir, então vocês descobrirão se realmente querem ou não fumar. Se vocês acharem que querem, então fumem. Dessa maneira, vocês descobrirão o valor desse hábito sem constantemente chamá-lo de inútil e, no entanto, continuarem com ele. Se vocês abordarem o ato completamente, integralmente, então não dirão: “Devo parar de fumar ou não?” Mas agora, vocês querem fumar porque lhes dá uma sensação agradável e, ao mesmo tempo, não querem porque mentalmente veem o absurdo disso. Portanto, vocês começam a se disciplinar, dizendo: “Tenho que me sacrificar, tenho que deixar de fumar”.

Frognerseteren, 2ª Palestra Pública – 08 de setembro de 1933