Encare o fato e veja o que acontece

Todos nós tivemos experiências de tremenda solidão, onde livros, religião, tudo passou e ficamos tremendamente, interiormente sós, vazios. A maioria de nós não pode encarar esse vazio, essa solidão, e fugimos dela. A dependência é uma das coisas para onde corremos, dependemos porque nós não conseguimos ficar sós conosco mesmos. Temos que ter o rádio ou livros ou conversa, o tagarelar incessante sobre uma coisa ou outra, sobre arte e cultura. Assim nós chegamos nesse ponto em que sabemos que existe este extraordinário sentido de autoisolamento. Podemos ter um emprego muito bom, trabalhar furiosamente, escrever livros, mas interiormente há este tremendo vácuo. Queremos preencher isso e a dependência é um dos meios. Usamos dependência, diversão, trabalho na igreja, religiões, bebida, mulheres, uma dúzia de coisas para encher, encobrir isto. Se virmos que é absolutamente fútil tentar encobrir isto, completamente fútil, não verbalmente, não com convicção e, portanto, concordância e determinação, mas se virmos o total absurdo disto, então estamos frente a um fato. Não é uma questão de como se livrar da dependência; isso não é um fato; isso é apenas uma reação a um fato. Por que eu não encaro o fato e vejo o que acontece? Agora surge então o problema do observador e do observado. O observador diz, “Eu sou vazio; não gosto disso” e foge disto. O observador diz, “Eu sou diferente do vazio”. Mas o observador é o vazio; não é o vazio visto por um observador. O observador é o observado. Há uma tremenda revolução no pensar, no sentir, quando isso acontece.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida


Tornar-se profundamente consciente

A dependência impulsiona o movimento de indiferença e apego, um constante conflito sem compreensão, sem um alívio. Você deve se tornar consciente do processo de apego e dependência, se tornar consciente dele sem condenação, sem julgamento, e então você perceberá o significado deste conflito de opostos. Se você se torna profundamente cônscio e conscientemente dirige o pensamento para compreender o completo significado de necessidade, de dependência, sua mente consciente estará aberta e esclarecida a respeito disto; e então o subconsciente com seus motivos ocultos, buscas e intenções, se projetará no consciente. Quando isto acontece, você deve estudar e compreender cada insinuação do subconsciente. Se você fizer isto muitas vezes, se tornando cônscio das projeções do subconsciente depois do consciente ponderar sobre o problema tão claramente quanto possível, então, mesmo que você dê atenção a outros assuntos, o consciente e o inconsciente resolverão o problema da dependência, ou em qualquer outro problema. Assim, está estabelecida uma constante conscientização, que paciente e calmamente provocará integração; e se sua saúde e dieta estão corretas, isto vai gerar de volta integridade de ser.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida


Existe algum fator mais profundo que nos faz depender

Sabemos que dependemos de nossa relação com as pessoas ou de algum ideal ou de um sistema de pensamento. Por quê? De fato, não acho que a dependência é o problema; acho que existe algum fator mais profundo que nos faz depender. E se pudermos elucidar isso, tanto a dependência como a luta por liberdade terão muito pouca significação; então todos os problemas que surgem pela dependência definharão. Então, qual é a questão mais profunda? É que a mente abomina, teme a ideia de estar só? E a mente conhece esse estado que ela evita? Enquanto essa solidão não é de fato compreendida, sentida, penetrada, dissolvida, qualquer palavra que você queira; enquanto esse sentido de solidão permanece, a dependência é inevitável, e a pessoa nunca pode ser livre; a pessoa nunca pode descobrir por si mesma aquilo que é verdadeiro, aquilo que é religião.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida


Nós nunca questionamos o problema da dependência

Por que nós dependemos? Psicologicamente, internamente, dependemos de uma crença, de um sistema, de uma filosofia; pedimos ao outro um modo de conduta; buscamos professores que nos darão um modo de vida que nos levará a alguma esperança, alguma felicidade. Assim, estamos sempre, não estamos, buscando algum tipo de dependência, segurança? É possível para a mente libertar-se deste sentido de segurança? O que não significa que a mente deve adquirir independência; isso é apenas reação à dependência. Nós não estamos falando de independência, de liberdade de um estado particular. Se nós pudermos investigar sem a reação de buscar liberdade de um estado particular de dependência, então poderemos entrar muito mais profundamente nisto. Nós admitimos a necessidade de dependência; dizemos que é inevitável. Nunca questionamos o assunto realmente, por que cada um de nós realmente, bem no fundo, demanda segurança, permanência? Estando em estado de confusão, queremos alguém que nos tire dessa confusão. Assim, estamos sempre interessados em como escapar ou evitar o estado em que estamos. No processo de evitar esse estado, somos levados a criar algum tipo de dependência, que se torna nossa autoridade. Se dependemos do outro para nossa segurança, para nosso bem estar interior surgem dessa dependência inumeráveis problemas, e então tentamos resolver esses problemas; os problemas de apego. Mas nós nunca questionamos, nunca investigamos o problema da dependência em si. Talvez se pudermos de fato inteligentemente, com total consciência investigarmos este problema então podemos descobrir que a dependência não é absolutamente a questão. Que ela é apenas um modo de escapar de um fato mais profundo.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida