Olhe para uma coisa que você viu e é de fato maravilhosamente bela: uma estátua, um poema, um lírio no lago, ou um gramado bem cuidado. E quando você vê tal pedaço de beleza, – não, não, quando você vê isso, não pedaço – quando você vê tal beleza o que acontece? Naquele momento a própria majestade da montanha faz você esquecer-se de si mesmo. Certo? Você já esteve nessa posição? Quando você vê que você não existe, apenas aquela grandeza existe. Mas alguns instantes depois ou um minuto depois todo o ciclo começa, a confusão, o tagarelar. Assim, a beleza está onde você não está. Compreendeu isto? Compreendeu senhor? Oh, que multidão! A tragédia disto. A verdade está onde você não está. Beleza, amor está onde você não está. Porque nós não somos capazes de olhar para esta coisa extraordinária chamada verdade.
Bombay, 4ª Palestra Pública – 31 de janeiro de 1982
Ela estava entre um grupo de pessoas que veio discutir alguns assuntos sérios. Deve ter vindo por curiosidade, ou foi trazida por um amigo. Bem vestida, portava-se com certa dignidade, e evidentemente se considerava de muito boa aparência. Era completamente consciente de si; consciente de seu corpo, de sua aparência, de seu cabelo e da impressão que causava aos outros. Seus gestos eram estudados e, de vez em quando, tomava atitudes diferentes que deve ter elaborado com grande cuidado. Toda sua aparência dava a impressão de uma postura longamente cultivada na qual ela estava determinada a encaixar, o que quer que pudesse acontecer. Os outros começaram a falar de coisas sérias, e durante uma hora ou mais ela manteve sua pose. Vimos entre todas aquelas faces sérias e concentradas esta moça consciente de si, tentando acompanhar o que estava sendo dito e participar da discussão; nenhuma palavra saiu dela. Ela queria mostrar que também estava ciente do problema que era discutido; mas havia espanto em seus olhos, pois ela era incapaz de tomar parte na conversa séria. Vimos ela rapidamente se recolher para dentro dela mesma, ainda mantendo a pose longamente cultivada. Toda espontaneidade estava sendo laboriosamente destruída. Todos cultivam uma pose. Há o andar e a pose de um próspero homem de negócios, o sorriso de quem chegou; há a aparência e a pose do artista; há a pose de um discípulo respeitoso, e a pose de um asceta disciplinado. Como aquela moça centrada em si mesma, o chamado homem religioso assume uma pose, a pose da autodisciplina que ele arduamente cultivou através de negações e sacrifícios. Ela sacrificou a espontaneidade pelo efeito, e ele se imolou para chegar a um fim. Ambos estão interessados num resultado, embora em diferentes níveis; e enquanto o resultado dele possa ser considerado socialmente mais benéfico que o dela, fundamentalmente eles são semelhantes, um não é superior ao outro. Ambos não são inteligentes, pois mostram a insignificância da mente. Uma mente insignificante é sempre insignificante; ela não pode ser rica, abundante. Embora tal mente possa se enfeitar ou buscar adquirir virtude, ela permanece o que ela é, uma coisa insignificante, superficial e, através do chamado crescimento, experiência, ela só pode ser enriquecida em sua própria insignificância. Uma coisa feia não pode se tornar uma coisa bela. O deus de uma mente insignificante é um deus insignificante. Uma mente superficial não se torna impenetrável enfeitando-se com conhecimento e frases engenhosas, citando palavras de sabedoria, ou decorando sua aparência exterior. Adornos, sejam interiores ou exteriores, não fazem uma mente impenetrável; e é essa impenetrabilidade da mente que confere beleza, não a joia ou a virtude adquirida. Para a beleza surgir, a mente deve estar consciente sem escolha de sua própria insignificância; tem que haver uma consciência na qual a comparação cessou inteiramente.
Comentários sobre o viver; Volume 1; Capítulo 53; Espontaneidade
Beleza obviamente inclui beleza da forma. Mas, sem beleza interior, a mera apreciação sensual da beleza e da forma leva à degradação, à desintegração. Só há beleza interior quando você sente amor real pelas pessoas e por todas as coisas da Terra; e, com esse amor, vem um enorme senso de consideração, de cuidado, de paciência. Você pode ter uma técnica perfeita – como cantor ou poeta – pode saber pintar ou combinar palavras, mas, sem essa beleza criativa interior, seu talento terá muito pouca importância.
Infelizmente, a maioria de nós está se tornando meros técnicos. Nós passamos em exames, adquirimos esta ou aquela técnica para ganhar o sustento; mas adquirir técnica ou desenvolver capacidade sem prestar atenção no estado interior traz feiura e caos ao mundo. Se despertarmos a beleza criadora interior, ela se expressará exteriormente, e, então, há ordem.
This Matter of Culture; Pág 72
Qualquer tendência ou talento que leve ao isolamento, qualquer forma de auto identificação, conquanto estimulante, distorce a expressão da sensibilidade e resulta em insensibilidade. A sensibilidade embota-se quando o dom se torna pessoal, quando se dá importância ao “eu” e ao “meu” (pintura, escrita, invento). E só quando estamos conscientes de cada movimento do nosso pensamento e sentimento no relacionamento com pessoas, coisas e com a natureza, é que a mente está aberta, é flexível, não acorrentada a exigências e buscas auto protetoras; e só então há sensibilidade ao feio e ao belo, sem os obstáculos do ego. A sensibilidade ao belo e ao feio não resulta do apego; ela resulta do amor quando não há conflitos auto criados. Quando somos interiormente pobres, entregamo-nos a todas as formas de exibição exterior, na riqueza, no poder e nas posses. Quando nossos corações estão vazios, colecionamos coisas. Se tivermos condições, cercamo-nos de objetos que consideramos bonitos e, porque lhes damos tanta importância, somos responsáveis por muito sofrimento e destruição.
O espírito aquisitivo não é amor à beleza; ele procede do desejo de segurança, e estar seguro é ser insensível.
A Educação e o Significado da Vida; Pág. 125