Por que qualquer coisa que toquemos se torna um problema? Por que o sexo virou um problema? Por que nos submetemos a viver com problemas; por que não damos um fim a eles? Por que não morremos para nossos problemas em vez de carregá-los dia após dia, ano após ano? Certamente, sexo é uma questão relevante, que eu responderei presentemente, mas existe uma questão primária: por que transformamos a vida em um problema? Trabalho, sexo, ganhar dinheiro, pensar, sentir, experimentar, você sabe, todo esse negócio de viver; por que é um problema? Não é essencialmente porque sempre pensamos de um ponto de vista particular, de um ponto de vista fixo? Estamos sempre pensando de um centro em direção à periferia, mas a periferia é o centro para a maioria de nós, e assim qualquer coisa que tocamos é superficial. Mas a vida não é superficial; ela demanda viver completamente, e porque vivemos só superficialmente, só conhecemos a reação superficial. Qualquer coisa que fazemos na periferia inevitavelmente criará um problema, e essa é nossa vida; vivemos no superficial e nos contentamos vivendo ali com todos os problemas do superficial. Assim, os problemas existem enquanto vivemos no superficial, na periferia, a periferia sendo o “eu” e suas sensações, que podem ser externadas ou subjetivas, que podem se identificar com o universo, com o país, ou com alguma outra coisa criada pela mente. Assim, enquanto vivermos dentro do campo da mente haverá complicações, haverá problemas; e isso é tudo que conhecemos.
O Livro da Vida
O sexo se tornou um problema porque não há amor. Não é isso? Quando realmente amamos não há problema, há um ajustamento, há uma compreensão. É somente quando perdemos o senso de verdadeira afeição, aquele amor profundo no qual não há sentido de possessividade que surge o problema do sexo. É somente quando nos entregamos completamente à mera sensação que surgem muitos problemas relativos ao sexo. Como a maioria das pessoas perdeu a alegria do pensamento criativo, elas naturalmente recorrem à mera sensação do sexo, o que se torna um problema que corrói suas mentes e corações. Enquanto você não começar a questionar e compreender o significado do ambiente, dos muitos valores que você construiu ao seu redor como autoproteção e que estão destruindo o pensamento fundamental e criativo, naturalmente você recorrerá a muitas formas de estímulo. Daí surgem inúmeros problemas para os quais não há solução, exceto a compreensão fundamental e inteligente da própria vida.
Por favor, experimentem o que estou dizendo. Comecem a descobrir o verdadeiro significado da religião, do hábito, da tradição, de todo esse sistema de moralidade que está continuamente forçando, compelindo vocês em uma direção particular. Comecem a questionar todo o seu significado sem preconceitos. Assim, vocês despertarão esse pensamento criativo que dissolve os muitos problemas nascidos da ignorância.
Rio de Janeiro, 2ª Palestra Pública – 17 de abril de 1935
Por que o sexo se tornou um problema? É um problema porque perdemos aquela força criativa que chamamos de amor. Como não há amor, o sexo se torna um problema. O amor se tornou mera possessividade, não aquele ajustamento supremamente inteligente à vida. Quando perdemos esse amor e dependemos apenas da sensação, então o amor e o sexo se tornam um problema cruel. Para compreender profundamente essa questão e viver intensamente com amor, a mente deve estar livre do desejo de possuir. Isso requer grande inteligência e discernimento.
Não há soluções imediatas para esses problemas vitais. Se você realmente quer resolvê-los de forma inteligente, você deve alterar as causas fundamentais que criam esses problemas. Mas se você lidar com eles apenas superficialmente, então as ações que surgirem deles criarão problemas maiores e mais complicados. Se você compreender profundamente o significado da possessividade – na qual há crueldade, opressão, indiferença – e a mente se libertar dessa limitação, então a vida não será um problema nem uma escola para aprender; será uma vida para ser vivida completamente, na plenitude do amor.
Montevideo, 3ª Palestra Pública – 28 de junho de 1935
O que você quer dizer com problema de sexo? É o ato, ou é um pensamento a respeito do ato? Certamente, não é o ato. O ato sexual não é problema para você mais do que o comer é um problema para você, mas se você pensa em comer ou em qualquer outra coisa o dia inteiro porque não tem mais nada para pensar, isto se torna um problema para você. Por que você constrói isto, o que você está obviamente fazendo? Os cinemas, as revistas, as histórias, o modo como as mulheres se vestem, tudo está formando seus pensamentos, por que a mente de fato pensa em sexo? Por que, senhores e senhoras? É seu problema. Por quê? Por que isto se tornou um assunto central na vida de vocês? Quando existem tantas coisas chamando, exigindo sua atenção, você dá atenção completa ao pensamento sobre sexo. O que acontece, por que suas mentes estão tão ocupadas com isto? Porque esse é um caminho de fuga final, não é? É uma forma de completo esquecimento de si mesmo. Por um tempo, ao menos naquele momento, você pode se esquecer de si mesmo e não existe outro modo de esquecer-se de si mesmo. Tudo o mais que você faz dá ênfase ao “eu”, ao ego. Seu negócio, sua religião, seus deuses, seus líderes, suas ações políticas e econômicas, sua adesão a um partido e a negação do outro, tudo isso enfatiza e reforça o “eu”. Quando existe uma única coisa em sua vida que é uma avenida para a última fuga, para o completo esquecimento de você mesmo só durante poucos segundos, você se prende a isto porque esse é o único momento em que você está feliz.
O Livro da Vida