O homem religioso

Qual é o estado da mente que diz, “Eu não sei se existe Deus, se existe amor”, ou seja, quando não existe resposta da memória? Por favor, não respondam à pergunta imediatamente para vocês mesmos porque se o fizerem, sua resposta será simplesmente o reconhecimento do que vocês pensam que devia ou não devia ser. Se você diz, “É um estado de negação”, está comparando com alguma coisa que você já conhece, que você já sabe; e, portanto, esse estado em que você diz, “Eu não sei” é não existente.
Então a mente que é capaz de dizer, “Eu não sei”, está no único estado em que qualquer coisa pode ser descoberta. Mas o homem que diz, “Eu sei”, o homem que estudou infinitamente as variedades da experiência humana e cuja mente está sobrecarregada com informações, com conhecimento de enciclopédia, pode experimentar uma coisa que não é para ser acumulada? Ele achará isto extremamente difícil. Quando a mente põe de lado totalmente todo o conhecimento que adquiriu, quando para ela não existem Budas, nem Cristos, nem Mestres, nem professores, nem religiões, nem citações; quando a mente está completamente sozinha, não contaminada, o que significa que o movimento do conhecido chegou a um fim; só então existe a possibilidade de uma tremenda revolução, uma mudança fundamental. O homem religioso é aquele que não pertence a qualquer religião, a qualquer nação, a qualquer raça, que está internamente completamente sozinho, em um estado de não-saber, e para ele a benção do sagrado acontece.

O Livro da Vida


O homem religioso

Mas o homem religioso é aquele que, pelo autoconhecimento, começa a descobrir seu condicionamento e rompê-lo; e rompê-lo não é uma questão de tempo.

Poona, 6ª Palestra Pública – 24 de setembro de 1958


O homem verdadeiramente religioso não é aquele que pratica a chamada religião

O homem verdadeiramente religioso não é aquele que pratica a chamada religião, que se prende a certos dogmas e crenças, que pratica certos rituais, ou busca conhecimento, pois ele está meramente procurando outra forma de gratificação. O homem que é verdadeiramente religioso é completamente livre da sociedade, não tem responsabilidade em relação à sociedade; ele pode estabelecer uma relação com a sociedade, mas a sociedade não tem relação com ele. Sociedade é religião organizada, a estrutura social e econômica, toda a estrutura em que fomos criados; e essa sociedade ajuda o homem a encontrar Deus, verdade, pouco importa o nome que lhe dê – ou o homem que está buscando Deus cria uma nova sociedade? Ou seja, não deve o indivíduo romper com a sociedade existente, cultura, ou civilização? Certamente, no próprio rompimento ele descobre o que é verdade, e é essa verdade que cria a nova sociedade, a nova cultura.

Bombay, 1ª Palestra Pública – 16 de fevereiro de 1955