Quando vocês veem uma coisa bonita, a alegria é instantânea; veem um pôr do sol e há uma imediata reação de alegria. Essa alegria, momentos mais tarde, torna-se uma memória. Essa memória da alegria é uma coisa viva? A memória de um pôr do sol é uma coisa viva? Não, é uma coisa morta. Portanto, com essa impressão morta de um pôr do sol, por meio dela, querem encontrar alegria. Memória não é alegria; é apenas a lembrança de algo que criou a alegria. Memória em si mesma não é alegria. Há alegria, a reação imediata à beleza de uma árvore, então vem a memória e destrói essa alegria. Portanto, se existe uma constante percepção de beleza sem o acúmulo de memórias, haverá então a possibilidade da permanência da alegria.
Obras coletadas; Vol. VII; Pág. 100
Quando vocês observam uma nuvem ou uma folha, é um prazer olhar. A beleza de qualquer coisa é um prazer, mas carregá-lo até o dia seguinte, então a dor começa. Vocês podem evocar o prazer, pensar nele, sustentá-lo, fomentá-lo, buscá-lo, persegui-lo, possuí-lo, mas não com alegria nem com êxtase, e isso acontece naturalmente, facilmente, sem qualquer chamamento, esse êxtase, quando compreendem o medo e o prazer.
Palestras e Diálogos Sydney 1970; Pág. 44
Vejam, senhores, vocês observam um pôr do sol encantador, uma bela árvore num campo, e logo que olham alegram-se completamente, inteiramente, no entanto retornam a isso com o desejo de deleitar-se de novo. O que acontece quando voltam com o desejo de alegrar-se novamente? Não há alegria nenhuma, porque é a memória do pôr do sol de ontem que está agora fazendo vocês voltarem, que os está impelindo, incitando-os a alegrarem-se. Ontem não havia memória alguma, só uma apreciação espontânea, uma resposta direta, no entanto hoje estão desejosos de recobrar a experiência de ontem, ou seja, a memória está interferindo entre vocês e o pôr do sol. Portanto, não há nenhuma alegria, nenhum esplendor, nenhuma plenitude de beleza. Novamente, vocês têm um amigo que lhes disse alguma coisa ontem, um insulto ou uma cortesia, vocês retêm essa memória, e com essa memória vocês encontram seu amigo hoje. Realmente não encontram seu amigo – carregam a memória de ontem, que intervém; assim, continuamos cercando a nós próprios e as nossas ações com memória, portanto, não há nenhuma inovação, nenhum frescor. Essa é a razão pela qual a memória torna a vida cansada, enfadonha e vazia.
Obras coletadas; Vol. V; Pág. 119
Acho muito importante entender essa coisa chamada “alegria”, o desfrutar das coisas. Quando você vê alguma coisa muito bonita, você quer possui-la, segurá-la, você quer chamá-la de seu: “É minha árvore, meu pássaro, minha casa, meu marido, minha esposa”. Nós queremos segurá-la e, nesse mesmo processo de segurar, a coisa que você desfrutou se foi, pois no próprio segurar há dependência, medo, há exclusão, e então a coisa que dava alegria, uma sensação de beleza interior, é perdida e a vida se torna fechada. Você considera a coisa como sendo pertencente a você, de modo que gradualmente o desfrutar se torna algo que você pode possuir, que você deve ter. Você gosta de fazer um ritual, fazer puja ou de ser alguém no mundo, você se contenta em viver na superfície, buscando uma sensação, um prazer atrás do outro. Essa é a nossa vida, não é? Você se cansa de um Deus e quer encontrar outro. Você muda o seu guru, se ele não o satisfaz, e então lhe diz: “Por favor, me leve a algum lugar”. Por trás de tudo isso está a busca por alegria. Você vive em um nível superficial e acha que pode ter alegria com isso.
Para conhecer a verdadeira alegria é preciso ir muito mais fundo. A alegria não é mera sensação. Ela requer um refinamento extraordinário da mente, mas não o refinamento do ego que reúne cada vez mais para si mesmo. Tal ego, tal pessoa nunca pode compreender esse estado de alegria no qual o desfrutador não está.
Banaras, 12ª Conversa com alunos – 19 de janeiro de 1954