Um ideal é meramente uma distração

Para compreender uma coisa, devo dar integral atenção a ela, e um ideal é meramente uma distração que me impede de dar esse sentimento ou essa qualidade de integral atenção em dado momento. Se estou integralmente atento, se dou minha atenção integral para a qualidade que chamo de ganância sem a distração de um ideal, não estou eu na posição de compreender a ganância e dissolvê-la? Veja, nós somos muito acostumados a adiar, e os ideais nos ajudam a adiar; mas se podemos deixar de lado todos os ideais – pois compreendemos as fugas, a qualidade de adiar de um ideal – e encaramos a coisa como ela é, diretamente, imediatamente, damos nossa completa atenção a ela, então, certamente, existe uma possibilidade de transformá-la.

Collected Works; Vol. V; Pág. 290; Consciência sem escolha


Todo pensamento é distração

Uma mente que é competitiva, presa no conflito de vir a ser, pensando em termos de comparação, não é capaz de descobrir o real. Pensamento-sentimento que é intensamente vigilante está no processo de constante autodescoberta – em que a descoberta, sendo verdadeira, é libertadora e criativa. Tal autodescoberta gera liberdade da ganância e da complexa vida do intelecto. É esta complexa vida do intelecto que encontra gratificação no hábito: curiosidade destrutiva, especulação, mero conhecimento, capacidade, mexerico e assim por diante; e estes obstáculos impedem a simplicidade da vida. Um hábito, uma especialização confere esperteza à mente, um meio de focar o pensamento, mas não é o florescimento do pensamento-sentimento na realidade. A liberdade da distração é mais difícil já que não compreendemos completamente o processo de pensar-sentir que se tornou nele mesmo um meio de distração. Estando sempre incompleto, capaz de curiosidade especulativa e formulação, ele tem o poder de criar seus próprios obstáculos, ilusões, que impedem a vigilância do real. Assim ele se torna sua própria distração, seu próprio inimigo. Como a mente é capaz de criar ilusão, este poder deve ser compreendido antes de poder ficar totalmente livre das próprias distrações por ele criadas.

O Livro da Vida


Não existe tal coisa como distração

Então a mente que tem o poder da concentração, que diz que tem completo controle sobre o pensamento, é uma mente estúpida. Se for assim, então você deve encontrar um modo de investigação que não seja simplesmente através da concentração. Concentração implica distração, não é? A mente assume uma posição e diz que tudo mais é distração. Ela diz que eu devo pensar nisto e exclui tudo mais. Agora, para mim, não existe tal coisa como distração porque não existe posição central que a mente assume e então diz: eu vou atrás disso e não daquilo. Então vamos tirar tanto a palavra como o sentimento condenatório da distração. Por favor, experimente o que estou dizendo. Tire essa palavra distração não apenas verbalmente, mas emocionalmente, internamente. Então você verá o que acontece com sua mente. Para nós atualmente existe concentração e distração, uma perspectiva concentrada e um devaneio. Então você vê que criamos uma dualidade e, portanto, um conflito. Você desperdiça sua vida lutando entre o pensamento escolhido e as distrações, e quando você consegue uma hora em que está completamente tomado por uma ideia você sente que alcançou alguma coisa. Mas se você tira esta ideia de distração completamente então vai descobrir que sua mente está num estado de reação – num estado de associação que você chama “devaneio”. Esse é o fato, e você tirou o elemento de conflito. Então você está livre para lidar com os devaneios, você pode investigar por que a mente devaneia não meramente tentar interrompê-la, controlá-la. Então, desde que você tirou a palavra, o sentimento de estar distraído, o que está funcionando agora é uma mente que está atenta ao devaneio, à reação.

Poona, 4ª Palestra Pública – 17 de setembro de 1958


Somos adoradores de palavras e rótulos.

Rótulos parecem dar satisfação. Aceitamos a categoria à qual supostamente pertencemos como uma explicação satisfatória da vida. Somos adoradores de palavras e rótulos; parecemos não ir além do símbolo, compreender o valor do símbolo. Ao nos chamarmos disto ou daquilo, nos asseguramos de perturbações posteriores, e nos acomodamos. Uma das maldições de ideologias e crenças organizadas é o conforto, a mortal gratificação que oferecem. Elas nos põem a dormir, e dormindo sonhamos, e o sonho se torna ação. Quão facilmente somos distraídos! E a maioria de nós quer ser distraída; a maioria de nós está cansada de conflitos incessantes, e as distrações se tornam uma necessidade, se tornam mais importantes do que o que é. Podemos brincar com as distrações, mas não com o que é; distrações são ilusões, e existe um deleite perverso nelas.

Comentários sobre o viver; Vol. I; Capítulo 68; Ação Sem Objetivo