Há uma flor na beira do caminho, uma coisa clara e brilhante aberta para os céus; o sol, as chuvas, a escuridão da noite, os ventos e trovões e o solo tomaram parte na criação daquela flor. Mas a flor não é nenhuma destas coisas. Ela é a essência de todas as flores. A liberdade da autoridade, da inveja, medo da solidão não vai trazer aquela unicidade, com sua extraordinária austeridade. Isto chega quando o cérebro não está procurando; chega quando suas costas estão viradas para ele. Então nada pode ser acrescentado a isto ou tirado disto. Então, isto tem sua vida própria, um movimento que é a essência de toda vida, sem tempo e espaço.
Notebook
Você é sempre um hóspede nesta terra e tem a austeridade de um hóspede. Austeridade é muito mais profunda do que ter apenas poucas coisas. A própria palavra austeridade foi deturpada pelos monges, pelos “sannyasis”, pelos eremitas. Sentado no alto daquela montanha sozinho no isolamento de muitas coisas, muitas pedras e pequenos animais e formigas, essa palavra não tem significado. Na distância além das montanhas estava o mar imenso, reluzente, luminoso. Nós fragmentamos a terra em sua e minha – sua nação, minha nação, sua bandeira e a bandeira dele, esta religião particular e a religião do homem lá longe. O mundo, a terra está dividida, fragmentada. E por isso nós lutamos e disputamos, e os políticos exultam em seu poder de manter esta divisão, nunca olhando o mundo como um todo. Eles não conseguiram a mente global. Eles nunca sentiram nem perceberam a imensa possibilidade de não haver nacionalidade, nem divisão, eles não podem perceber a feiura do poder deles, sua posição e seu sentido de importância. São como você ou o outro, apenas ocupam o assento do poder com seus pequeninos desejos e ambições, e assim, aparentemente, mantém, enquanto o homem está sobre esta terra, a atitude tribal em relação à vida. Eles não têm uma mente que não está comprometida com algum ponto, algum ideal, ideologias – uma mente que passa além da divisão de raça, cultura, das religiões que o homem inventou. Os governos devem existir enquanto o homem não for uma luz para si mesmo, enquanto ele não viver sua vida diária com ordem, cuidado, trabalhando diligentemente, olhando, aprendendo. Ele precisa que lhe digam o que fazer. Foi lhe dito o que fazer pelos anciãos, pelos gurus, e ele aceitou as ordens deles, suas destrutivas disciplinas peculiares como se eles fossem deuses nesta terra, como se conhecessem as implicações dessa vida extraordinariamente complexa.
Krishnamurti para si mesmo