Existe uma quietude

Espero que vocês ouçam, mas não com a memória do que já conhecem; e isto é muito difícil de fazer. Você ouve uma coisa e sua mente reage imediatamente com seu conhecimento, suas opiniões, suas conclusões, suas memórias passadas. Ela ouve querendo uma compreensão futura. Apenas observe a si mesmo, como você está ouvindo, e verá que é isto que acontece. Ou você está ouvindo com uma conclusão, com conhecimento, com certas memórias, experiências, ou você quer uma resposta, e está impaciente. Você quer saber o que é tudo isto, o que é a vida, a extraordinária complexidade da vida. Não está realmente ouvindo. Você só pode ouvir quando a mente está quieta, quando a mente não reage imediatamente, quando há um intervalo entre sua reação e o que é dito. Então nesse intervalo há uma quietude, há um silêncio onde existe compreensão, que não é compreensão intelectual. Se há uma lacuna entre o que é dito e sua reação ao que é dito, nesse intervalo, se você observar, surge a clareza. Esse intervalo é o novo cérebro.

O Livro da Vida


Ativa mas quieta

Para descobrir a nova mente, não é apenas necessário para nós compreender as respostas do cérebro, é também necessário que o cérebro velho fique quieto. O cérebro velho deve estar ativo mas quieto. Vocês estão acompanhando o que estou dizendo? Olhe, senhor! Se você quiser descobrir por si mesmo em primeira mão – não o que alguém disse – se existe tal coisa como Deus, a palavra “Deus” não é o fato, seu velho cérebro, que foi nutrido numa tradição, contra Deus ou a favor, numa cultura, numa influência ambiental e propaganda, durante séculos de afirmação social, deve ficar quieto. Pois de outro modo, ele apenas projetará suas próprias imagens, seus próprios conceitos, seus próprios valores. Mas estes valores, estes conceitos, estas crenças são o resultado do que lhe foi dito, ou são o resultado de suas reações ao que lhe foi dito; então, inconscientemente, você diz: “esta é minha experiência!” Então você tem que questionar a própria validade da experiência, a sua própria experiência ou a de outro; não importa quem. Assim, questionando, inquirindo, perguntando, exigindo, olhando, ouvindo atentamente, as reações do velho cérebro se aquietam. Mas o cérebro não está adormecido; ele está muito ativo, mas está quieto. Ele chegou a essa quietude pela observação, pela investigação. E para investigar, para observar, você deve ter luz; e a luz é sua constante vigilância.

O Livro da Vida


O velho cérebro, nosso cérebro animalesco

Penso que é importante compreender a operação, o funcionamento, a atividade do velho cérebro. Quando o novo cérebro opera, o velho cérebro não pode compreender o novo cérebro. Apenas quando o velho cérebro, que é nosso cérebro condicionado, nosso cérebro animalesco, o cérebro cultivado através de séculos de tempo, que fica eternamente buscando sua própria segurança, seu próprio conforto – apenas quando o velho cérebro estiver quieto, você verá que existe um tipo de movimento completamente diferente, e é este movimento que trará clareza. Este movimento é a clareza em si mesmo. Compreender, você deve compreender o velho cérebro, estar cônscio dele, conhecer todos os seus movimentos, suas atividades, suas demandas, suas buscas, e por isso a meditação é muito importante. Não quero dizer o absurdo, sistematizado cultivo de certo hábito de pensamento e todo o resto; isso é tudo muito infantil e imaturo. Por meditação quero dizer compreender as operações do velho cérebro, olhá-lo, saber como ele reage, quais são suas respostas, suas tendências, suas demandas, sua busca agressiva para conhecer tudo isso, a parte consciente bem como a inconsciente dele. Quando você o conhece, quando há consciência dele, sem controle, sem direção, sem dizer: “Isto é bom; isto é mau; manterei isto; não manterei aquilo”, quando você vê a totalidade do movimento do velho cérebro, quando você vê totalmente, então ele fica quieto.

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