Agora, a nossa chamada “educação” destrói implacavelmente a inteligência criativa. A educação religiosa que autoritariamente mantém perante vocês a ideia de medo sob variadas formas, os impede de questionar, de duvidar. Vocês podem ter descartado a antiga religião de Mylapore, mas vocês aceitaram uma nova religião que tem muitos “Não façam” e “Façam”. A sociedade, através da força da opinião pública que é forte, vital, também os impede de duvidar. E vocês dizem que se vocês resistissem à opinião pública, ela os esmagaria. Assim, por todos os lados, a dúvida é desencorajada, destruída, posta de lado. No entanto, vocês só podem encontrar a verdade quando começarem a questionar, a duvidar dos valores pelos quais a sociedade e a religião, antigas e modernas, os cercaram.
Adyar, 2ª Palestra – 30 de dezembro de 1933
Para a compreensão, o primeiro requisito é duvidar, duvidar não apenas em relação ao que digo, mas principalmente em relação às ideias que vocês mesmos sustentam. Mas vocês fizeram da dúvida um anátema, um impedimento, um mal a ser banido, a ser posto de lado; vocês fizeram da dúvida uma coisa abominável, uma doença. Mas, para mim, a dúvida não é nada disso, a dúvida é uma pomada que cura.
Mas do que vocês geralmente duvidam? Vocês duvidam do que o outro diz. É muito fácil duvidar de alguém. Mas duvidar da própria coisa em que estão presos, da própria coisa que sustentam, duvidar da própria coisa que vocês buscam, perseguem, isso é mais difícil. A verdadeira dúvida não admite substituição. Quando vocês duvidam de outro, como quando alguém disse durante uma destas palestras outro dia: “Duvidamos de você”, isso mostra que vocês estão duvidando do que estou dando, do que estou tentando explicar. Muito bem. Mas sua dúvida é apenas a busca por substituição. Vocês dizem: “Eu tenho isto, mas não estou satisfeito. Isso me satisfará, aquela outra coisa que você está oferecendo? Para descobrir, tenho que duvidar de você.” Mas não estou lhes oferecendo nada. Estou dizendo para vocês duvidarem da própria coisa que está em suas mãos, da própria coisa que está em sua mente e em seu coração; então vocês não buscarão mais substituição.
Adyar, 6ª Palestra – 03 de janeiro de 1934
O fortalecimento da fé não produz compreensão; em vez disso, a própria dúvida dessa fé e a descoberta de seu significado trazem compreensão. Que diferença faria se vocês vissem os Mestres fisicamente todos os dias? Vocês ainda manteriam seus preconceitos, suas tradições, seus hábitos; vocês ainda seriam escravos de suas crueldades, de suas crenças fanáticas e estreitas, de sua falta de amor, de seu orgulho por nacionalidade, mas isso vocês manteriam em segredo a sete chaves.
Então, da primeira pergunta surge uma segunda: “Você duvida dos mensageiros dos Mestres?” Eu duvido de tudo, porque é somente através da dúvida que se pode descobrir, não através de colocarmos nossa fé em algo. Mas vocês evitaram cuidadosamente e diligentemente a dúvida; vocês a descartaram e fizeram dela um impedimento.
Adyar, 3ª Palestra – 31 de dezembro de 1933
Vocês veem como a tensão desta audiência diminuiu. Ou vocês estão cansados ou não estão tão interessados neste assunto como estavam interessados no assunto das cerimônias e dos Mestres. Vocês não veem a importância da crítica, porque sua capacidade de duvidar, de questionar, foi destruída pela educação, pela religião, pelas condições sociais. Vocês têm medo de que a dúvida e a crítica destruam a estrutura de crença que vocês construíram com tanto cuidado. Vocês sabem que as ondas da dúvida debilitarão o alicerce da casa que vocês construíram sobre as areias da fé. Vocês têm medo da dúvida e do questionamento. É por isso que seu interesse, sua tensão diminuiu. Mas a tensão é necessária para a ação; sem essa tensão, vocês não farão nada, seja no mundo físico ou no mundo do pensamento e do sentimento, que são todos um.
Adyar, 4ª Palestra, 01 de janeiro de 1934
Agora, se sua atitude é de aceitação, vocês vivem com medo da crítica e quando surge a dúvida, como deve surgir, vocês a destrói cuidadosamente e diligentemente. No entanto, é somente através da dúvida, através da crítica, que vocês podem realizar. E o propósito da vida é realizar, não acumular, não alcançar, como explicarei em seguida. A vida é um processo de busca, não a busca por um fim específico, mas a busca para liberar a energia criativa, a inteligência criativa no homem. É um processo de movimento eterno, livre de crenças, de conjuntos de ideias, de dogmas ou do chamado conhecimento.
Adyar, 1ª Palestra – 29 de dezembro de 1933