Então, a mente que tem o poder de concentração, que diz ter completo controle sobre o pensamento, é uma mente estúpida. Se for assim, então você deve encontrar um modo de investigar que não é meramente através da concentração. Concentração implica distração, não é? A mente assume uma posição e diz que tudo mais é distração. Ela diz que deve pensar sobre aquilo e exclui todo o resto. Agora, para mim, não existe tal coisa como distração porque não existe posição principal que a mente assume e daí diz: Vou à busca disto e não daquilo. Assim vamos remover tanto a palavra como o sentimento condenatório de distração. Por favor, experimente o que estou dizendo. Remova a palavra distração não apenas verbalmente, mas emocionalmente, internamente. Então você verá o que acontece com sua mente. Para nós, presentemente, existe concentração e distração, uma perspectiva concentrada e o desvio. Então você percebe que criamos uma dualidade, e, portanto, conflito. Você gasta sua vida lutando entre o pensamento escolhido e as distrações, e quando consegue uma hora em que está completamente preso por uma ideia, sente que conseguiu alguma coisa. Mas se você remove esta ideia de distração de todo, então descobrirá que sua mente está num estado de reação – num estado de associação que você chama de “desvio”. Isso é um fato, e você removeu o elemento de conflito. Então você está livre para lidar com os desvios; você pode examinar por que a mente se desvia e não meramente tentar interrompê-la, controlá-la. Assim, tendo removido a palavra, o sentimento de estar distraído, o que está agora funcionando é uma mente atenta aos desvios, à reação.
Poona, 4ª Palestra Pública – 17 de setembro de 1958
Realmente, você não precisa aprender a se concentrar. Por favor, escute isso. Não se force a se concentrar, mas esteja interessado, ame o que você está fazendo por si mesmo. Quando você pintar, pinte por si mesmo, quando você olhar para uma dança, aprecie-a, olhe para ela, veja a beleza dela para que sua mente não seja dividida em partes diferentes, para que a mente seja uma coisa inteira, uma coisa completa. Para que não haja um olhar fracionário com uma mente que esteja dividida em partes diferentes e que diga: “Eu devo olhar”.
O importante não é a concentração, mas o amor pela coisa. O próprio amor pela coisa por si mesma traz uma energia surpreendente, uma energia que é atenção. Sem isso, o seu aprendizado, o seu olhar não tem significado e você simplesmente passa nas provas ou se torna um funcionário glorificado.
Banaras, 12ª Conversa com alunos – 19 de janeiro de 1954