Como o estado de atenção vai surgir? Ele não pode ser cultivado através de persuasão, comparação, prêmio, ou punição, todas elas são formas de coerção. A eliminação do medo é o início da atenção. O medo existirá enquanto houver o anseio de ser ou de se tornar, que é a busca de sucesso, com todas as suas frustrações e tortuosas contradições. Você pode ensinar concentração, mas a atenção não pode ser ensinada, assim como não pode ensinar a liberdade do medo, e na compreensão destas causas está a eliminação do medo. Então a atenção surge espontaneamente quando em torno do aluno há uma atmosfera de bem estar, quando ele tem o sentimento de estar seguro, de estar confortável, e está consciente da ação desinteressada que vem com o amor. O amor não compara, e assim a inveja e a tortura de “se tornar” cessam.
J. Krishnamurti – O Livro da Vida
No cultivo da mente, nossa ênfase não deveria ser na concentração, mas na atenção. Concentração é um processo de forçar a mente a se restringir a um ponto, ao passo que a atenção é sem fronteiras. Nesse processo a mente está sempre limitada por uma fronteira ou divisa, mas quando nosso interesse é compreender a totalidade da mente, a simples concentração se torna um obstáculo. A atenção é ilimitada, sem as fronteiras do conhecimento. O conhecimento chega através da concentração, e qualquer extensão do conhecimento está ainda dentro de suas próprias fronteiras. No estado de atenção a mente pode e usa conhecimento, cuja necessidade é resultado da concentração; mas a parte nunca é o todo, e adicionar muitas partes não funciona para a percepção do todo. O conhecimento, que é o processo aditivo da concentração, não provoca a compreensão do imensurável. O total nunca está dentro dos parêntesis de uma mente concentrada.
Assim, a atenção é de importância capital, mas ela não vem com o esforço da concentração. A atenção é um estado no qual a mente está sempre aprendendo sem um centro em torno do qual o conhecimento se agrupa como experiência acumulada. Uma mente concentrada em si mesma usa o conhecimento como meio para sua própria expansão; e tal atividade se torna autocontraditória e anti-social.
J. Krishnamurti – O Livro da Vida
É necessário estar atento a este fluxo de tempo, não dizer, “Vou manter este, esta parte do tempo que me deu prazer, que me deu satisfação, esta lembrança de algo que me deliciou”. Deve haver uma atenção total, na qual não existe absolutamente sentimento, nem emoção. Para a maioria de nós sofrimento é autopiedade, e autopiedade é total perda de tempo numa orgia emocional. Não tem absolutamente valor. O que tem valor é o fato, não a autopiedade que surge da descoberta que podemos ou não, devemos ou não. A autopiedade cria angústia emocional, sentimento e todo o resto. Quando há a morte de alguém de quem gostamos, aí está sempre o veneno da autopiedade. Essa autopiedade assume muitas formas, a profunda consideração por aquele que morreu, e assim por diante. Mas onde existe sofrimento, não existe amor. Onde existe ciúme, não existe amor. Onde o homem é ambicioso, competitivo, buscando o próprio progresso, tentando obter, tal pessoa obviamente não tem amor. Todos nós sabemos disto intelectualmente, contudo vamos ao encalço do modo de vida que cria sofrimento.
Londres, 3ª Palestra Pública – 03 de maio de 1966
Se me permitem entrar mais nisto, a pergunta realmente é: é possível para a mente estar tão atenta o tempo todo, tão sensível que cada desafio é respondido completamente e imediatamente, e chegar num estado onde não há desafio nem resposta, onde ela não está mais no estado de experimentar? Pense nisto. Você pode negar isto, pode dizer que é uma teoria muito boa; mas olhe para isto. Quando você compreende uma coisa totalmente, digamos, por exemplo, quando compreende totalmente a autoridade, todas as suas peculiaridades, suas tendências, onde você leu completamente todo o livro da autoridade que é você mesmo, em você mesmo, quando você compreendeu completamente a autoridade, então não há mais qualquer problema sobre autoridade, nem as experiências de autoridade podem atingi-lo. Do mesmo modo, se você considera a totalidade da vida com todas as suas complexidades, e por isso fica livre da inveja, ganância, ciúme, ambição, autoridade, então, existe necessidade de experiência? Eu digo que só tal mente pode compreender o que é verdadeiro, o que é falso, e se existe alguma coisa fora do tempo; apenas tal mente está livre do conhecido e, portanto, não num mundo de experiência, desafio e resposta, e conhecimento; é só tal mente que pode encontrar o eterno.
Varanasi, 7ª Palestra Pública – 14 de janeiro de 1962