O autoconhecimento não segue uma fórmula. Você pode ir a um psicólogo ou psicanalista para descobrir sobre si mesmo, mas isso não é autoconhecimento. O autoconhecimento surge quando estamos conscientes de nós mesmos na relação, que mostra o que somos de momento a momento. A relação é um espelho onde nos vemos como realmente somos. Mas a maioria de nós é incapaz de olhar para si mesmo como se é na relação porque imediatamente começamos a condenar ou justificar o que vemos. Nós julgamos, avaliamos, comparamos, negamos ou aceitamos, mas nunca observamos de fato o que é, e para muitas pessoas isto parece ser a coisa mais difícil de fazer; no entanto, só isto é o inicio do autoconhecimento. Se a pessoa é capaz de olhar a si mesma como ela é neste extraordinário espelho da relação, que não distorce, se a pessoa puder apenas olhar neste espelho com completa atenção e ver realmente o que é, ficar cônscio disto sem condenação, sem julgamento, sem avaliação – e a pessoa faz isto quando há o mais sério interesse – então ela descobrirá que a mente é capaz de se libertar de todo condicionamento; e só então a mente está livre para descobrir aquilo que está além do campo do pensamento. Afinal, conquanto estudada ou conquanto pequena a mente possa ser, ela é, consciente ou inconscientemente, limitada, condicionada, e qualquer extensão deste condicionamento está ainda dentro do campo do pensamento. Então liberdade é uma coisa inteiramente diferente.
J. Krishnamurti – O Livro da Vida
Por isso que é importante, como eu disse, compreender o processo, os caminhos de nosso próprio pensar. O autoconhecimento não pode ser acumulado através de alguém, através de nenhum livro, através de confissão, psicologia, ou psicanalista. Tem que ser descoberto por você mesmo, porque é sua vida; e sem a ampliação e o aprofundamento desse conhecimento do ego, faça o que fizer, altere qualquer circunstância externa ou interna, influências – será sempre um solo fértil de desespero, dor e sofrimento. Para ir além das atividades fechadas da mente, você deve entendê-las; e entendê-las é estar cônscio da ação na relação, relação com as coisas, as pessoas e as ideias. Nessa relação, que é o espelho, começamos a ver a nós mesmos, sem nenhuma justificação ou condenação; e desse mais amplo e mais profundo conhecimento dos caminhos de nossa própria mente, é possível ir mais adiante; assim é possível para a mente estar quieta, receber aquilo que é real.
Ojai, 4ª Palestra Pública – 24 de julho de 1949
O pensar correto chega com o autoconhecimento. Sem compreender a si mesmo, você não tem base para o pensamento; sem autoconhecimento o que você pensa não é verdadeiro. Você e o mundo não são duas entidades diferentes, com problemas separados; você e o mundo são um. Seu problema é o problema do mundo. Você pode ser o resultado de certas tendências, de influências ambientais, mas não é, fundamentalmente, diferente do outro. Internamente somos muito semelhantes; somos todos guiados pela ganância, vontade doentia, medo, ambição e assim por diante. Nossas crenças, esperanças, aspirações têm bases comuns. Somos um; somos uma humanidade, embora as fronteiras artificiais de economia, política e preconceito nos dividam. Se você mata o outro, está destruindo a si mesmo. Você é o centro do todo, e sem compreender a si mesmo, você não pode compreender a realidade. Nós temos um conhecimento intelectual desta unidade mas mantemos conhecimento e sentimento em compartimentos diferentes e, assim, nunca experimentamos a extraordinária unidade do homem.
J. Krishnamurti – O Livro da Vida
Sem autoconhecimento, a experiência gera ilusão; com autoconhecimento, a experiência, que é a resposta ao desafio, não deixa um resíduo cumulativo como memória. Autoconhecimento é a descoberta, de momento a momento, dos caminhos do ego, suas intenções e ocupação, seus pensamentos e apetites. Nunca pode haver “sua experiência” e “minha experiência”; o próprio termo “minha experiência” indica ignorância e a aceitação da ilusão.
J. Krishnamurti – O Livro da Vida