O tempo e o pensamento criam o medo

O tempo e o pensamento criam o medo – tempo como ontem, hoje e amanhã. Há o medo de que amanhã algo aconteça – a perda de um emprego, a morte, que minha mulher ou meu marido fuja, que a doença e a dor que tive há muitos dias voltem de novo. É aí que o tempo entra. O tempo, incluindo o que o meu vizinho possa dizer sobre mim amanhã, ou o tempo que até agora tem ocultado algo que eu fiz há muitos anos. Tenho medo de que alguns desejos secretos, profundos, não sejam satisfeitos. Portanto, o tempo está presente no medo, medo da morte que vem no fim da vida, que pode estar esperando na esquina e estou com medo. Assim, o tempo envolve medo e pensamento. Não existe tempo se não existir pensamento. Pensar sobre o que aconteceu ontem, ter medo de que isso possa acontecer de novo amanhã – é isso que faz surgir o tempo e também o medo.

J. Krishnamurti – O Voo da Águia


Em contato com o medo

Existe medo físico. Sabe, quando você vê uma cobra, um animal selvagem, instintivamente há medo; esse é um medo normal, saudável, natural. Não é medo, é um desejo de se proteger, que é normal. Mas a proteção psicológica de si mesmo, ou seja, o desejo de estar sempre certo gera medo. Uma mente que está sempre querendo estar certa é uma mente morta, porque não existe certeza na vida, não existe permanência. Quando você entra em contato direto com o medo, há uma resposta dos nervos e todo o resto. Então, quando a mente não está mais fugindo através de palavras ou através de qualquer tipo de atividade, não há divisão entre o observador e a coisa observada como medo. Só a mente que está fugindo separa a si mesma do medo. Mas quando há um contato direto com o medo, não existe observador, não existe entidade que diz, “Eu estou com medo”. Assim, no momento em que você está em contato direto com a vida, com qualquer coisa, não existe divisão; é esta divisão que gera competição, ambição, medo. Então o importante não é “como ficar livre do medo?” Se você procura um caminho, um método, um sistema para se livrar do medo, estará eternamente preso ao medo. Mas se você compreende o medo, o que só pode acontecer quando você entra em contato direto com ele, quando você é ameaçado de perder o emprego, então você faz alguma coisa; só então você descobrirá que todo o medo cessa; queremos dizer todo o medo, não medo deste tipo ou daquele tipo.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida


O medo nos faz obedecer

Por que nós fazemos tudo isto: obedecer, seguir, copiar? Porque temos medo internamente de estarmos incertos. Queremos estar certos, queremos estar certos financeiramente, queremos estar certos moralmente, queremos ser aprovados, queremos estar numa posição segura, queremos nunca ser confrontados com problemas, dor, sofrimento, queremos estar cercados. Então o medo, consciente ou inconscientemente, nos faz obedecer ao Mestre, ao líder, ao sacerdote, ao governo. O medo também nos controla para não fazermos alguma coisa que possa ser prejudicial aos outros, porque seremos punidos. Assim, por trás de todas estas ações, ambições, buscas, espreita este desejo de certeza, esse desejo de estar seguro. Então, sem resolver o medo, sem ficar livre do medo, meramente obedecer ou ser obedecido tem pouco significado; o que tem significado é compreender este medo dia a dia e como o medo se mostra de diferentes formas. Só quando há liberdade do medo pode haver essa qualidade interior de compreensão, essa solidão em que não existe acúmulo de conhecimento ou de experiência, e é apenas isso que nos dá a extraordinária clareza na busca do real.

J. Krishnamurti – O Livro da Vida


Só quando você estiver livre do medo

Quando você está livre do medo, há o forte sentimento de ser bom, de pensar com muita clareza, de olhar as estrelas, de olhar as nuvens, de olhar os rostos com um sorriso. Quando não há medo, pode-se ir muito mais longe. Então você pode descobrir por si mesmo aquilo que o homem tem buscado ao longo de gerações. Em cavernas no sul da França e no norte da África, há pinturas de 25000 anos de animais lutando com homens, figuras de veados, de gado. São pinturas extraordinárias. Elas mostram a luta infinda do homem, sua batalha com a vida e sua busca da coisa extraordinária chamada Deus. Porém, ele nunca encontra essa coisa extraordinária. Você só esbarra com ela no escuro, involuntariamente, quando não houver nenhum tipo de medo.

J. Krishnamurti – A Educação e o Significado da Vida