https://jkrishnamurti.org/content/ojai-2nd-public-talk-17th-june-1934
Segunda Palestra em Oak Grove, Ojai, Califórnia
Vocês devem se lembrar que ontem eu estava falando sobre o nascimento do conflito e como a mente busca uma solução para ele. Eu quero lidar, esta manhã, com toda a ideia de conflito e desarmonia; e mostrar a total trivialidade da mente que tenta buscar uma solução para o conflito, porque a mera busca pela solução não acabará com o conflito em si. Quando vocês buscam uma solução, um meio de dissolver o conflito, vocês simplesmente tentam sobrepor algo em seu lugar ou substituí-lo por um novo conjunto de ideias, um novo conjunto de teorias ou tentam fugir completamente dele. Quando as pessoas desejam uma solução para seus conflitos, é isso que elas buscam.
Se vocês observarem, verão que quando há conflito, vocês imediatamente buscam uma solução para ele. Vocês querem encontrar uma saída para esse conflito e, geralmente, a encontram; mas vocês não resolveram o conflito, apenas o modificaram; substituindo-o por um novo ambiente, por uma nova condição, que por sua vez produzirão mais conflito. Portanto, examinemos toda essa ideia de conflito, de onde ele surge e o que podemos fazer com ele.
Agora, o conflito resulta do ambiente, não é? O que é ambiente? Quando vocês ficam conscientes do ambiente? Somente quando há conflito e resistência ao ambiente. Então, se vocês observarem, se examinarem suas vidas, verão que o conflito está deteriorando, corrompendo, moldando suas vidas continuamente; e a inteligência, que é a perfeita harmonia entre mente e coração, não faz parte de suas vidas. Ou seja, o ambiente está incessantemente moldando, modelando suas vidas para uma ação e, naturalmente, dessa contínua deterioração, modelagem, corrupção, o conflito nasce. Portanto, onde há esse constante processo de conflito não há inteligência. E, no entanto, pensamos que, passando continuamente pelo conflito, chegaremos a essa inteligência, a essa plenitude, a esse êxtase. Mas pelo acúmulo de conflito não podemos descobrir como viver inteligentemente; vocês só podem descobrir como viver de forma inteligente quando compreenderem o ambiente que está criando conflito; e a mera substituição, isto é, a introdução de novas condições não resolverá o conflito. E, no entanto, se vocês observarem, verão que, quando há conflito, a mente busca uma substituição. Ou dizemos que é hereditariedade, as condições econômicas, o ambiente anterior ou afirmamos nossa crença no carma, reencarnação, evolução. Assim, estamos tentando dar desculpas para o conflito atual em que a mente está presa, em vez de tentarmos descobrir qual é a causa do conflito em si, que significa investigarmos o significado do ambiente.
Então, o conflito só pode existir entre o ambiente – que são as condições econômicas e sociais, domínio político, os vizinhos – e o resultado do ambiente, que é o “eu”. O conflito só existe enquanto houver reação ao ambiente, que produz o “eu”, o ego. A maioria das pessoas não tem consciência deste conflito – o conflito entre o “eu”, que é apenas o resultado do meio, e o próprio ambiente. Muito poucas pessoas estão conscientes dessa batalha contínua. A pessoa só se torna consciente desse conflito, dessa desarmonia, dessa luta entre a falsa criação do ambiente, que é o ego, e o próprio meio através do sofrimento, não é? É somente através da intensidade do sofrimento, da intensidade da dor, da intensidade da desarmonia que vocês se tornam conscientes do conflito.
O que acontece quando vocês ficam conscientes do conflito? O que acontece quando, nessa intensidade de sofrimento, vocês ficam plenamente conscientes da batalha, da luta que está acontecendo? A maioria das pessoas quer um remédio imediato, uma resposta imediata. Elas querem se proteger do sofrimento e, portanto, encontram vários meios de fuga, como mencionei ontem, tais como as religiões, diversões, futilidades e os muitos misteriosos caminhos de escape que criamos através de nosso desejo de nos protegermos dessa luta. O sofrimento torna a pessoa consciente do conflito, mas o sofrimento não levará as pessoas a essa plenitude, a essa riqueza, completude, a esse êxtase de vida; porque, afinal, o sofrimento só pode despertar a mente para maior intensidade. E quando a mente está aguçada, então ela começa a questionar, ela questiona o ambiente, as condições; e nesse questionamento, a inteligência está em ação. E é somente a inteligência que levará as pessoas à plenitude de vida, à descoberta do significado do sofrimento. A inteligência começa a funcionar no momento de sofrimento aguçado, quando a mente e o coração não estão mais escapando, fugindo através das várias avenidas que vocês abriram tão habilmente, que são, aparentemente, razoáveis, factuais, reais. Se vocês observarem com cuidado, sem preconceitos, verão que enquanto escaparem, vocês não estão resolvendo, enfrentando o conflito e, portanto, seu sofrimento é apenas acúmulo de ignorância. Ou seja, quando a pessoa deixa de escapar, através dos canais bem conhecidos, então, nesse estado aguçado de sofrimento, a inteligência começa a funcionar.
Por favor, não quero dar exemplos e analogias, porque quero que vocês pensem bem sobre isso; se eu der exemplos, eu farei todo o trabalho e vocês apenas escutarão. Considerando que, se vocês começarem a pensar sobre o que estou dizendo, vocês verão, observarão por si mesmos como a mente, acostumada a tantas substituições, autoridades, fugas, nunca chega a esse ponto de sofrimento aguçado, que exige que a inteligência funcione. E é somente quando a inteligência está funcionando plenamente que pode haver a dissolução total da causa do conflito.
Sempre que há falta de compreensão do ambiente, há conflito. O meio dá origem ao conflito e, enquanto não compreendermos o ambiente, as condições, os arredores e estivermos apenas buscando substituições para essas condições, estaremos fugindo de um conflito e enfrentando outro. Mas se nesse estado de sofrimento aguçado que traz à tona um conflito, começarmos a questionar o ambiente, então compreenderemos o verdadeiro valor dele e, portanto, a inteligência funcionará naturalmente. Até agora, a mente se identificou com o conflito, com o ambiente, com as fugas e, portanto, com o sofrimento; ou seja, vocês dizem: “Eu sofro”. Considerando que, nesse estado de sofrimento aguçado, nessa intensidade de sofrimento em que não há mais fugas, a própria mente se torna inteligente.
Em outras palavras, enquanto estivermos buscando soluções, enquanto estivermos buscando substituições, autoridades para a causa e alívio do conflito, haverá identificação da mente com o sofrimento particular. Considerando que, se a mente estiver nesse estado de sofrimento intenso, em que todas as vias de fuga estão bloqueadas, então a inteligência é despertada, ela funcionará de forma natural e espontânea.
Por favor, se vocês experimentarem isso, verão que não estou lhes dando teorias, mas algo com o qual vocês podem trabalhar, algo prático. Vocês têm tantos ambientes que lhes foram impostos pela sociedade, pela religião, pelas condições econômicas, pelas diferenças sociais, pelas explorações e opressões políticas. O “eu” foi criado por essas imposições, por essas compulsões. Existe o “eu” em vocês que está lutando contra o ambiente e, portanto, há conflito. Não adianta criar um novo ambiente, porque a mesma coisa continuará existindo. Mas se nesse conflito existir tristeza e sofrimento conscientes – e sempre há sofrimento em todos os conflitos, só que nós queremos fugir dessa luta, então procuramos substitutos – se nesse sofrimento aguçado vocês pararem de procurar substitutos e realmente enfrentarem os fatos, vocês verão que a mente, que é inteligência total, começa a descobrir o verdadeiro valor do ambiente e, assim, vocês perceberão que a mente fica livre do conflito. No próprio estado de sofrimento aguçado está sua própria dissolução. Então, é aí que está a compreensão da causa do conflito.
Também devemos ter em mente que o que chamamos de acúmulo de sofrimentos não leva à intensidade, nem a multiplicação do sofrimento leva à sua própria dissolução; porque a agudeza de mente, que o sofrimento traz, vem apenas quando a mente deixa de escapar. E nenhum conflito despertará esse sofrimento, esse estado aguçado de sofrimento, quando a mente está tentando escapar; porque na fuga não há inteligência.
Para resumir novamente, antes de responder às perguntas que me foram feitas. Em primeiro lugar, todas as pessoas estão envolvidas em sofrimento e conflito, mas a maioria delas não tem consciência do conflito; elas estão apenas buscando substituições, soluções e meios de fuga. Considerando que, se elas pararem de buscar meios de fuga e começarem a questionar o ambiente que causa conflito, então a mente se torna penetrante, viva, inteligente. Nessa intensidade, a mente se torna inteligente e, portanto, vê todo o valor e significado do ambiente que cria conflito.
Por favor, tenho certeza de que metade de vocês não compreende isso, mas não importa. O que vocês podem fazer, se vocês quiserem, é refletirem sobre isso, realmente investigarem e verem se o que estou dizendo não é verdadeiro. Mas pensarem sobre isso não é intelectualizá-lo, isto é, sentarem-se e fazerem o assunto desaparecer através do intelecto. Para descobrirem se o que estou dizendo é verdade, vocês devem colocar em ação; e para colocarem em prática, vocês devem questionar o ambiente. Ou seja, se vocês estão em conflito, naturalmente vocês devem questionar o ambiente, mas a maioria das mentes se tornou tão corrompida que não percebe que está buscando soluções, meios de fuga através de suas maravilhosas teorias. Elas raciocinam perfeitamente, mas seu raciocínio é baseado na busca por meios de fuga, dos quais elas estão totalmente inconscientes.
Então, se houver conflito e, se vocês quiserem descobrir a causa do conflito, naturalmente a mente deve começar a descobrir através do pensamento aguçado e, portanto, do questionamento de tudo o que o ambiente lhes impõe – sua família, seus vizinhos, suas religiões, suas autoridades políticas; e através desse questionamento haverá ação contra o meio. Existe a família, o vizinho e o Estado e, questionando o significado de tudo isso, vocês verão que a inteligência é espontânea, que ela não pode ser obtida nem cultivada. Assim vocês plantaram a semente da atenção, e isso produz a flor da inteligência.
Pergunta: Você diz que o “eu” é o produto do ambiente. Você quer dizer que poderia ser criado um ambiente perfeito em que no qual não se desenvolveria a consciência do “eu”? Se assim for, a liberdade perfeita de que você fala é uma questão de criar o ambiente certo. É isso?
Vozes partindo do auditório: “Não!”
Krishnamurti: Esperem um minuto. Pode haver ambiente certo, ambiente perfeito? Não pode. As pessoas que responderam “não” não pensaram sobre isso completamente; então vamos raciocinar juntos, entrar nesse assunto integralmente.
O que é o ambiente? O ambiente é criado, toda essa estrutura humana tem sido criada por medos, anseios, esperanças, desejos e conquistas. Agora, vocês não podem criar um ambiente perfeito porque cada pessoa está fazendo, de acordo com suas fantasias e desejos, novos conjuntos de condições; mas através de uma mente inteligente, vocês podem compreender todos esses ambientes falsos e, portanto, ficarem livres da consciência do “eu”. Por favor, a consciência do “eu”, o sentimento do “meu”, é o resultado do ambiente, não é? Acho que não precisamos discutir isso porque é bastante óbvio.
Se o Estado lhes desse casas e tudo o que vocês precisam, não haveria necessidade de “minha” casa, poderia haver algum outro sentido de “meu”, mas estamos discutindo o sentido de particularidade. Como não é esse o caso, existe o sentimento de “meu”, possessividade. Esse é o resultado do ambiente, o “eu” é apenas a falsa reação ao ambiente. Considerando que, se a mente começa a questionar o próprio ambiente, não há mais reação ao ambiente. Portanto, não estamos preocupados com a possibilidade de haver um ambiente perfeito.
Afinal, o que é ambiente perfeito? Cada pessoa lhe dirá o que é, para ela, um ambiente perfeito. O artista lhe dirá uma coisa, o financiador outra, a atriz de cinema outra; cada pessoa pede um ambiente perfeito que a satisfaça, ou seja, que não crie conflito nela. Portanto, não pode haver um ambiente perfeito. Mas se há inteligência, então o ambiente não tem valor, não tem significado, porque a inteligência é livre de circunstâncias, ela está funcionando plenamente.
A questão não é se podemos criar um ambiente perfeito, mas sim como despertar aquela inteligência que está livre do ambiente, seja ele perfeito ou imperfeito. Eu afirmo que vocês podem despertar essa inteligência questionando o valor completo de qualquer ambiente em que sua mente esteja envolvida. Então vocês verão que estão livres de qualquer ambiente particular, porque estão funcionando de forma inteligente, não estão sendo corrompidos, moldados pelo meio.
Pergunta: Certamente, você não pode querer dizer o que suas palavras parecem transmitir. Quando vejo a imoralidade desenfreada no mundo, sinto um intenso desejo de lutar contra ela e contra todo o sofrimento que ela provoca na vida de meus semelhantes. Isso resulta em um grande conflito, porque, quando tento ajudar, sou muitas vezes confrontado com cruel oposição. Assim sendo, como você pode dizer que não há conflito entre o falso e o verdadeiro?
Krishnamurti: Eu disse ontem que só pode haver luta entre duas coisas falsas, conflito entre o meio e o resultado do meio, que é o “eu”. Agora, entre esses dois existem inúmeras avenidas de fuga que o “eu” criou, que chamamos de vício, bondade, moralidade, padrões morais, medos e todos os muitos opostos; e a luta só pode existir entre esses dois, entre a falsa criação do ambiente, que é o “eu”, e o ambiente em si. Mas não pode haver luta entre a verdade e o que é falso. Certamente, isso é óbvio, não é? Você sofre oposição cruel porque a outra pessoa é ignorante. Isso não significa que você não deve lutar, mas não pense que é uma luta justa. Por favor, vocês sabem que existe uma maneira natural de fazer as coisas, uma maneira espontânea e doce de fazê-las, sem esse espírito de justiça agressivo e cruel.
Em primeiro lugar, para lutar, vocês precisam saber contra o que estão lutando; portanto, precisa haver compreensão fundamental, não o conhecimento das divisões entre as coisas falsas. Agora, estamos tão conscientes, estamos tão plenamente conscientes das divisões entre as coisas falsas, das divisões entre o resultado e o ambiente, que lutamos contra elas e, portanto, queremos reformar, mudar, queremos alterar sem mudar fundamentalmente toda a estrutura da vida humana. Ou seja, ainda queremos preservar a consciência do “eu” que é a falsa reação ao ambiente; queremos preservá-la e ainda queremos alterar o mundo. Em outras palavras, vocês querem ter suas próprias contas bancárias, suas próprias posses, vocês querem preservar o sentido de “meu” e ainda assim querem alterar o mundo para que não haja essa ideia de “meu” e “seu”.
Portanto, o que devemos fazer é descobrirmos se estamos lindando com o fundamental ou apenas com o superficial. E, para mim, o superficial existirá enquanto vocês estiverem apenas preocupados com a alteração do ambiente para aliviar o conflito. Isto é, vocês ainda querem se apegar à consciência do “eu” como “minha”, mas desejam alterar as circunstâncias para que elas não criem conflito nesse “eu”. Eu chamo isso de pensamento superficial, que resulta naturalmente em ação superficial. Considerando que, se vocês pensarem fundamentalmente, isto é, questionarem o próprio resultado do ambiente que é o “eu” e, portanto, questionarem o ambiente em si, então vocês agirão fundamentalmente e, assim, de forma duradoura. E nisso há um êxtase, nisso há uma alegria que agora vocês não conhecem porque têm medo de agir fundamentalmente.
Pergunta: Em sua palestra de ontem, você falou que o ambiente é o movimento do falso. Você inclui, no conceito de ambiente, todas as criações da natureza, inclusive as formas humanas?
Krishnamurti: O ambiente não muda, não é? Para a maioria das pessoas, ele não muda, porque mudança implica um ajustamento contínuo e, portanto, um estado de atenção contínuo da mente; e a maioria das pessoas se preocupa com a condição estática do ambiente. No entanto, o ambiente está se movendo porque ele está além do seu controle; e ele será falso enquanto vocês não compreenderem seu significado.
Não nos preocupamos tanto com a natureza, porque quase a controlamos, mas não compreendemos o ambiente criado pelos seres humanos. Vejam a relação entre as pessoas, entre dois seres humanos e todas as condições que os seres humanos criaram que não compreendemos, embora tenhamos compreendido amplamente e conquistado a natureza através da ciência.
Portanto, não estamos preocupados com a estabilidade, com a continuidade de um meio que entendemos, porque no momento em que compreendemos o ambiente não há conflito. Ou seja, estamos buscando segurança, emocional e mental, e estamos felizes enquanto essa segurança estiver garantida e, portanto, nunca questionamos o ambiente e, assim, o constante movimento do ambiente é uma coisa falsa que está criando desordem em cada um. Enquanto houver conflito, isso indica que não compreendemos as condições impostas sobre nós; e esse movimento do ambiente permanecerá falso enquanto não investigarmos seu significado. E só podemos descobrir seu verdadeiro significado nesse estado de intensa consciência do sofrimento.
Pergunta: Está perfeitamente claro para mim que a consciência do “eu” é o resultado do ambiente, mas você não vê que o “eu” não se originou pela primeira vez nesta vida? Pelo que você diz, é óbvio que a consciência do “eu”, sendo o resultado do ambiente, começou em um passado distante e continuará no futuro.
Krishnamurti: Eu sei que essa é uma pergunta para me pegar sobre o assunto da reencarnação; mas isso não importa. Vamos examinar a questão.
Em primeiro lugar, vocês admitirão, se pensarem no assunto, que o “eu” resulta do ambiente. Agora, para mim, não importa se é ambiente passado ou atual. Afinal, o ambiente também envolve o passado. Vocês fizeram algo que não compreenderam, fizeram algo ontem que não compreenderam, então isso os persegue até que vocês compreendam. Vocês não podem esclarecer esse ambiente passado até que estejam totalmente despertos no presente. Portanto, não importa se a mente foi deteriorada por condições passadas ou presentes; o que importa é que vocês devem compreender o ambiente, e isso libertará a mente do conflito.
Algumas pessoas acreditam que o “eu” nasceu em um passado distante e que ele continuará no futuro. Isso é irrelevante para mim, não tem nenhum significado. Eu vou lhes mostrar o porquê. Se o “eu” é o resultado do ambiente, se o “eu” é apenas a essência do conflito, então a mente deve se preocupar não com a continuação do conflito, mas com a libertação do conflito. Portanto, não importa se é o ambiente passado que está deteriorando a mente, se é o ambiente atual que a está corrompendo ou se o “eu” nasceu em um passado distante. O que importa é que nesse estado de sofrimento, nessa percepção, nessa intensa consciência do sofrimento haja a dissolução do “eu”.
Isso traz a ideia de carma. Vocês sabem o que isso significa? Significa que vocês têm uma carga no presente, uma carga do passado no presente. Ou seja, vocês trazem consigo a carga do ambiente passado para o presente; e por causa desse fardo, vocês controlam, moldam o futuro. Se vocês pensarem nisso, têm que ser desta forma, se sua mente está corrompida pelo passado, naturalmente o futuro também será corrompido; porque se vocês não compreenderam o ambiente de ontem, ele continuará hoje e, portanto, como vocês não compreendem o ambiente de hoje, naturalmente também não compreenderão o ambiente de amanhã. Isto é, se vocês não viram o significado total de um ambiente ou de uma ação, isso corromperá sua percepção do ambiente de hoje, da ação de hoje nascida do meio, e isso novamente o corromperá amanhã. Assim, a pessoa fica presa nesse círculo vicioso e, portanto, a ideia de renascimento contínuo, renascimento da memória ou da mente, continuada pelo ambiente.
Mas eu digo que a mente pode se livrar do passado, do ambiente passado, dos obstáculos passados e, portanto, vocês podem se livrar do futuro; porque vocês estarão vivendo dinamicamente no presente, de forma intensa, suprema. No presente está a eternidade; e para compreender isso, a mente deve estar livre da carga do passado. E para libertar a mente do passado deve haver um intenso questionamento do presente, não a consideração de como o “eu” continuará no futuro.
17/06/1934.